A minha caixa de correio electrónico é diariamente entupida por e-mails relacionados com as polémicas da educação. Esta carta de uma Encarregada de Educação dirigida à Ministra foi sem dívida o melhor que li. Desconheço a autoria, mas está genial.
Colegas: que vos faça rir.
Pais: que vos faça reflectir…
Ema. Sra. Ministra:
1. Logo depois de ter lido aqueles documentos sobre a avaliação dos professores, pensei como lhe deveria agradecer, Srª Ministra. Afinal, aquelas horas passadas diariamente junto do meu filho a verificar se os cadernos e as fichas estavam bem organizados, a preparar a mochila e as matérias a estudar para o dia seguinte, a folhear a caderneta escolar, a analisar e a assinar os trabalhos e os testes realizados nas muitas disciplinas, a curar a inflamação de uma garganta dorida pela voz de comando 'Vai estudar!' ou pela frase insistentemente repetida, de 2ª a 6ª feira: 'Despacha-te, ainda chegas atrasado!' ou o incómodo e o tempo perdido para o levar diariamente à Escola, percorrendo, mais cedo do que seria necessário, um caminho contrário àquele que me conduziria ao meu emprego, tinham finalmente, os seus dias contados. Doravante, essa responsabilidade passaria para a Escola e, individualmente, para cada um dos seus professores. Finalmente, poderei ir ao cinema, dar dois dedos de conversa no Café do Sr. Artur, trocar umas receitinhas com a minha vizinha (está entrevadinha, coitadinha!) ou acomodar-me deliciosamente no sofá da sala a ver a minha telenovela brasileira preferida.
2. O rapaz ainda me alertou para os efeitos das faltas o conduzirem à realização de uma prova de recuperação. Fiz contas e encolhi os ombros - poupo gasóleo e muitos minutos de caminho, de tráfego e de ajuntamentos. Afinal, ele até é esperto e, se calhar, na internet, encontra alguns trabalhos ou testes já feitos... Sempre pode fazer 'copy - paste'...
Efectivamente, as provas de recuperação parecem-me a melhor solução para acabar com a minha asfixia matinal e vespertina. Ontem, a minha vizinha da frente, que tem dois garotos na escola do meu, disse-me que, se ele continuar a faltar, o vêm buscar a casa, e que, no próximo ano lectivo, os professores vão tomar conta deles depois das aulas.
3. Oiro sobre azul. Obrigada, Srª Ministra. A Senhora é que percebe desta coisa de ser mãe! A Senhora desculpe a minha ousadia, mas será que também não seria possível fazer uma lei para os miúdos poderem ficar a dormir na escola? Bastava mandar retirar as mesas e cadeiras das salas de aula e substituí-las por beliches, à noite. De manhã, era só desmontar e voltar a arrumar. Têm bar, cantina e até duche. Com jeito, eles ainda aprendiam alguma coisinha sobre tarefas domésticas, porque, em casa, não os podemos obrigar a fazer nada ou somos acusados de exploradores do trabalho infantil com a ameaça dos putos ainda poderem apresentar queixa junto das autoridades policiais. Ao Sábado, Srª Ministra, podiam ocupá-los com actividades desportivas ou de grupo, teatro, catequese, escuteiros, defesa pessoal...
4. O ideal mesmo era que os pudéssemos ir buscar ao Domingo, só para não se esquecerem dos rostos familiares. O meu medo, Srª Ministra é aquela ideia que a minha vizinha Sandrinha, aquela dos três garotos, comentava hoje comigo. Dizia-me que a Senhora Ministra quer criar o ensino doméstico. Eu acho que ela deve ter ouvido mal ou então confundiu o jornal da SIC com aquele programa da troca de casais do canal 24. Eu acho que isso não vinga em Portugal, porque não temos a extensão de uma América do Norte ou de uma Austrália e, por outro lado, tinha que comprar e equipar os VEI (veículos de educação itinerante), o que iria agravar mais o deficit das contas públicas e o insucesso dos nossos miúdos. Foi isso eu disse à Sandrinha. Acho que ela deve estar enganada. Logo agora, que podemos respirar de alívio porque não temos que nos preocupar com a escola dos garotos, essa ideia vinha destruir tudo, porque os obrigava a ficar em casa para receberem os VEI e aos pais ainda iria ser exigido algum acompanhamento.
5. A Senhora faça aquilo que decidiu e não oiça o que os inimigos dos pais e das mães lhe tentam dizer (já agora, lembre-se da minha sugestãozita!). Assim, os professores, com medo da sua própria avaliação, passam a dar boas notas e a passar todos os miúdos e, desta forma, o nosso país varre o lixo para debaixo do tapete, porque é muito feio e incomodativo mostrarmos, lá fora, que somos menos capacitados que os nossos 'hermanos' europeus.
Já agora acrescento: obrigado pelas aulas de substituição ... graças a elas o meu filho não sabe o que é brincar ao ar livre, correr, transpirar, cair, conviver... a indisciplina saiu dos recreios para as salas de aula, e por isso mesmo agora até levo o jantar ao quarto do meu filhote..
Ainda estava a saborear a publicação da Mulher Fantásticaaspalavrasnuncatedirei.blogs.sapo.pt/97243.html quando recebi um convite para uma co-autoria de um livro com uma pessoa multifacetada que é professor, pintor, escritor e é ainda responsável por uma empresa de publicidade no Rio de Janeiro, Marco. A ideia deste livro “luso-brasileiro” é espelhar a sensibilidade das Mulheres, de todas as mulheres que queiram colaborar connosco e que queiram partilhar a sua opinião. Não é necessário, que seja o amor homem/mulher, o que interessa é que seja Amor. Pelos filhos, namorado, marido, amante, natureza, vida... A intenção é recolher, pelo menos, mil frases (sim, leram bem) mil frases femininas sobre este sentimento. Desta forma nasceria uma colectânea com a visão de diferentes mulheres: as mais novas, as adolescentes, as de meia-idade, s conservadoras, as modernas, as radicais, as solteiras, casadas, divorciadas, enamoradas… enfim, a lista poder-se-ia prolongar. Já repararam que há o livro das 1000 Ideias Para Confeccionar Bacalhau, 1000 Receitas de Carne, 1000 Receitas de Peixe, 1000 Receitas da Cozinha Portuguesa 1000 Perguntas de Marketing, 1000 Lugares Para Conhecer Antes de Morrer, 1000 Tatuagens, 1000 Canções e Acordes de Guitarra, os 1000 Heróis de Jogos de Vídeo, 1000 Perguntas e Respostas, 1000 Perguntas Sobre Futebol, 1000 Exercícios de Preparação Física…a lista é interminável, falta apenas As Mulheres e o Amor – 1000 Frases Apaixonadas. Assim sendo venho solicitar a todas as meninas e mulheres que diariamente passam por aqui a vossa colaboração neste projecto. Basta que enviem para sandra_sofiabarbosa@sapo.pt uma frase sobre o amor e coloquem a vossa profissão, idade e o nome (se assim o desejarem). A todas, desde já, o meu muito obrigada pela participação.
Preparo-me para a apresentação da sessão de leitura no EP. O que é que vou vestir? Como me dizia o António, que já anda nestas lides há mais tempo «-Tens que ir lá para dentro feia!». Mas que antítese… As mulheres passam a vida a tentar embelezar-se, e eu tenho que “enfeiar-me”.Decido vestir calças, mas que calças? Ou são justas e notam-se as curvas, ou são bermudas e vêem-se as pernas. E no andar de cima? Os tops são muito justos, as camisas um pouco transparentes, as camisolas decotadas… Era mais fácil se estivéssemos no Inverno, umas calças de ganga e uma gola alta resolviam o problema. Decido-me por umas calças pretas, um top branco e uma camisa branca por cima. Apanho os caracóis com um elástico, não me pinto, não me perfumo, não uso adereços. Saio de casa e penso no projecto que vou desenvolver. Estaciono o carro no atrium do EP. Invade-me uma sensação de pânico que tenho dificuldade em controlar, estou tão nervosa… Combinei encontrar-me com a Dra. Teresa mais cedo para podermos conversar sobre as sessões de leitura e sobre os reclusos. Saio então do carro, dirijo-me ao portão e toco à campainha. Só eu sei o quanto o meu coração bate, só eu sei a importância que este trabalho tem para mim, o que ele significa. Surge um guarda que me encaminha para o detector de metais. O alarme ecoa e eu sinto-me do tamanho de uma formiga, ou pior, sinto-me uma criminosa que acabou de ser apanhada em flagrante. O meu coração bate descompassado, sou revistada e percebemos que o que accionou o alarme foi o cinto das minhas calças. A Dra. Isabel tranquiliza-me com a sua expressão, tem um sorriso terno e deixo-me acalmar pela doçura dos seus olhos. Falamos superficialmente sobre os reclusos que estão na sessão de leitura, nunca quis saber o que os levou a estar aqui, o que fizeram, porque o fizeram. Não é esse o meu papel, não é para isso que ali estou. «-Vamos passar à zona prisional», oiço-a dizer, e o meu coração, que já tinha sossegado, sobressalta-se novamente. Começa então a minha peregrinação por um edifício austero, onde a cada 5 metros há um portão de ferro enorme, há uma chave gigantesca que a abre. Cumprimento os guardas a que vou sendo apresentada. É então que contacto com um cenário para o qual não me havia preparado. Ao entrar na zona prisional começo a ouvir gritos, assobios, as grades a abanar. Dezenas de homens “enjaulados”, como animais ferozes, que não ficaram indiferentes à minha entrada naquele espaço. Faço de conta que não oiço, sigo em frente, não baixo a cabeça, mas também não olho ninguém nos olhos e lá vou eu escoltada até à biblioteca. Fui extraordinariamente bem recebida pelos reclusos que estão a trabalhar na biblioteca. São pessoas simpáticas, educadas, um deles até brinca comigo e diz que fui muito bem acolhida, que tive uma recepção muito calorosa por parte dos «residentes». Lentamente a sala começa a encher, as pessoas olham para mim e trocam sorrisos cúmplices (não é todos os dias que entra ali uma jovem professora loura…). Never smile before Christmast, aprendi este ditado relativamente às Escolas e tenho obrigatoriamente que o usar aqui, não me posso esquecer onde estou. Começo serena, mas segura, por me apresentar, explico que não estou ali na qualidade de professora mas sim de dinamizadora de leitura. Mostro-lhes as capas dos livros para servir de motivação, deixo-os tactear os livros. Apelo para a importância do livro e da leitura. Daqueles homens… conheço dois. Um é o Miguel, morava perto da casa da minha mãe, na mesma rua. Filho de uma família complicada, pais alcoólicos, irmã ligada a drogas e a prostituição, miséria, atrás de miséria. O outro, o André foi meu colega na infância. Lembro-me dele nas piscinas, nos saltos para a água com uma agilidade incrível. Lembro-me perfeitamente: sempre muito bem-disposto, divertido. Há anos que o não via… nunca pensei encontrá-lo ali. Não fiz qualquer menção de o reconhecido, (o que me deixou, e ainda deixa, cheia de remorsos). Não sei que pessoa é ele hoje e não lhe posso atribuir a confiança que um dia teve. O tempo e as próximas sessões me ensinarão como lidar com ele. Não quero ser, ou parecer snob, não quero armar-me em pessoa superior só porque tive uma educação que ele não teve, tive oportunidades que ele não conheceu, fiz escolhas que ele não fez… mas sinceramente… custou-me ficar em silêncio. A sessão vai fluindo, vamos analisando os textos, vão-se ouvindo opiniões, vão-se trocando experiências de leitura. No final, sinto que o balanço é muito positivo, gostaram do projecto que lhes apresentei e ao saírem despedem-se com um «- Até amanhã» se vão voltar, é porque lhes interessou.
Cá está ele! Finalmente os textos que há muito desejávamos ver impressos, não só eu como também os meus visitantes, já podem ser adquiridos. Como fazê-lo? O leitor pode contactar-me através do e-mail sandra_sofiabarbosa@sapo.pt e ficará a saber todos os pormenores.
Deixo-vos a sinopse para aguçar a vossa curiosidade.
Sinopse
Quem é a mulher fantástica? É toda aquela mulher que ao longo da vida consegue ser extraordinariamente bonita e feminina? Que é boa esposa, uma fogosa amante, a namorada exemplar? Ou a super-mãe, a amiga verdadeira e ainda a que consegue ser a melhor profissional no seu local de trabalho? Essencialmente, neste livro, descobrimos que é a mulher que pelo menos uma vez na vida já amou, já se sentiu amada mas também aquela que um dia sofreu por amor. Em suma, a Mulher Fantástica, mesmo que ainda oculta, são todas e cada uma das mulheres que somos e conhecemos.
Não pense que este livro se destina exclusivamente ao sexo feminino: ele pode até ser muito útil aos homens. Aqui encontrará pistas para compreender porque choram as mulheres por nada, ou porque sorriem sem razão aparente, ou até porque razões dizem “não” quando querem dizer “sim”.
As vozes deste livro são as mulheres fantásticas com quem nos cruzamos diariamente, que fazem (ou fizeram) parte da nossa vida, com as suas histórias, emoções, encantos e desencantos. A autora assume-se protagonista em alguns destes desabafos e transporta-nos ao sentimento que transborda nos rostos de onde caíram lágrimas, à fonte de luz em olhos que brilharam de alegria, ao desacerto de corações que bateram descompassados num momento determinado da sua vida.
Um blogue (http://aspalavrasnuncatedirei.blogs.sapo.pt) foi a forma que a autora encontrou para exorcizar as suas vivências e imaginação, e onde, de algum modo, pressentiu que outros corações se poderiam rever e querer contribuir através dos seus pontos de vista, como se de um exercício de pintura emocional colectiva se tratasse. A participação que daí adveio superou as suas expectativas: no decorrer de um ano e meio, diversos prémios atribuídos, para cima de 415.000 visitas e um número elevado de participações, comentários, desafios, confidências, desabafos, amizades, semelhanças e diferenças.
Há momentos em que um livro não chega para expressar tudo o que vai dentro de nós, não é suficiente para obter respostas às nossas perguntas ou para acalmar as nossas preocupações. Um virar de página não chega para uma vida que se quer nova ou, pelos menos, diferente.
Quantos (quantas?) haverá que sentem, como a autora, aquele formigueiro insistente na pele sensível da alma, apaziguada apenas pelas palavras que brotam em corrente incontida dos nossos lábios? São palavras que queimam por dentro e que têm razões próprias que muitas vezes escapam à nossa racionalidade culturalmente moldada, que se insinuam em cada gesto, que se erguem das nossas memórias e pintam os desejos de cores que só existem na escrita. Mas estas palavras ambicionavam ser mais que palavras: constituíam-se como um manifesto de partilha e de questionamento pessoal numa libertação pública catártica, num convite expresso e à urgente libertação de todos os que passavam naquele blogue.
Porquê um livro, agora? Porque os visitantes do blogue assim o pediram insistentemente e porque nestes textos se reconhecia a capacidade desta substância poder ocupar duas formas: o blogue e o livro. Mulher Fantástica é uma mulher em forma de livro, e este livro é para si.
Quando o discipulo estiver pronto o Mestre aparece”. Esta foi sempre a máxima que tive em mente no que diz respeito à publicação dos textos do blog. Com muita frequência os meus visitantes diziam que eu deveria transformar os posts em páginas de um livro, ao que sempre respondi que esse era um dos sonhos que tencionava, um dia, poder vir a realizar. Pois é, meus amigos da blogosfera, parece que esse dia finalmente chegou e o meu coração já não cabe no peito de tanta felicidade. Recentemente recebi a visita de uma Coordenadora Editorial que me disse que gostava da forma como escrevia e deixou nos comentários o seu endereço electrónico para a poder contactar. Foi com as mãos a tremer que lhe enviei o e-mail com os meus dados, foi com a voz embargada que marquei a reunião e foi com os olhos a brilhar que ouvi o «-Sim, vamos publicar». Agora estamos na fase da operacionalização deste projecto, por isso um dia destes terei o prazer de vos convidar para o lançamento do livro. Não posso deixar de agradecer às inúmeras pessoas que diariamente passam por aqui e me deixam os seus comentários, os seus elogios ao que escrevo e retribuir-lhes esse carinho. A vossa simpatia fez sempre com que a minha vontade de escrever fosse maior, e o vosso incentivo nunca me fez deixar de editar posts. A todos, de coração, o meu muito obrigada.