Pensando em Ti
A madrugada não tem palavras que te impeçam de abandonar o meu corpo, fugir do meu amor, e partir. Nem as sombras das nossas silhuetas, desenhadas com lágrimas nas paredes do quarto, têm voz, que te impeçam de virar costas e ir. Deixas em mim, tanto de ti, tanto da tua essência, sempre que vais embora.
Matam-me estes dias contínuos, em que a alma jaz nesta cama abandonada. Há mil anseios de alma por cumprir e o relógio não para e nunca perdoa. Não sei quanto tempo, o relógio da existência humana nos deu, nem sei também porque é que ainda te trago em mim.
Sei apenas que é nas asas do vento que te invento, que te amo, que te recordo. Não sei o que a estrada da vida nos reserva mas sei das ruas por onde me deixei guiar, de olhos vendados, confiante, no calor da tua mão. Sei dos becos secretos, proibidos onde nos perdemos. Sei das coordenadas do mapa que me ensinaste, mapa esse, que apresentava as linhas mestras do meu corpo, da minha vida, dos meus sentidos.
Nesses momentos o medo invade-me porque o caminho é infinito quando se caminha sozinha e nesses instantes a espera não tem fim. Invento-te num Oceano novo, pleno de liberdade. Navegas à deriva, porque apesar de tudo também me queres, fincas as mãos nesse mastro que sou eu e tentas comandar os nossos destinos.
Beijas-me nessa réstia de sopro de vida, enquanto a vida nos faz naufragar mesmo a chegar ao porto. E morro, morro porque te perco em cada onda do mar. A cada gaivota traiçoeira que de mim insiste em te levar.