Hoje lembrei-me de ti
Hoje lembrei-me de ti, com carinho, com ternura (ou seria ainda uma réstia de desejo e paixão?). Recordei as tuas mãos pequenas, os dedos franzinos numa mão de criança, as tuas unhas imaculadamente pintadas de vermelho; veio-me à ideia a pele acetinada dos teus braços que me envolviam o pescoço, os lábios que me sabiam sempre a batom de cereja e que brilhavam num sorriso ora tímido, ora atrevido; veio à minha memória o teu riso de menina, a tua alegria, as tuas gargalhadas contagiantes.
Pensei em enviar-te uma mensagem, mas não soube o que escrever. Pensei telefonar-te, mas há coisas que não se dizem pelo telefone. Decidi guardar-te para mais tarde…Depois percebi que passei a minha vida inteira (nossa vida) a agir assim: guardar-te para mais tarde. Ficava tudo para depois: o beijo que me esquecia de te dar de manhã, ou o que distraído não te dava quando regressava a casa; o toque no teu cabelo perfumado acabado de lavar, ou na tua pele onde deslizavas o creme de baunilha; a conversa sobre o teu dia, ou sobre as minhas chatices que me importunavam tanto; o elogio à tua elegância da qual só me lembrava quando os meus amigos te olhavam com olhos de apetite.
Não foi por mal acredita, nunca te amei menos nesses instantes, apenas pensei que tinha tempo, que podia ficar para depois porque continuarias ali. Conheces-me bem, sou exímio na arte de procrastinar.
Um dia, depois de tantos avisos à navegação para que mudasse esta minha maneira de ser, evaporaste-te da minha vida sem deixar rasto e eu continuo à tua procura na bruma.
Hoje, como em todos os dias, lembrei-me de ti…Eu queria um mundo onde tu não existisses, uma vida feita apenas com o meu egoísmo viril composta de amigos e jantaradas, mulheres e futebol. Mas tu és a estrada que sei que me leva ao meu destino, és a fonte onde bebo a água que me alimenta, és a luz que afasta os espetros sombrios dos meus dias, és o verdadeiro amor que depois de ti não encontrei e mais ninguém.