Gosto de te habitar nos demónios que assolam as tuas noites...
Imagino-te a rebolar na cama, de um lado para o outro, suado, perdido sem sono. O vento sopra nas tuas janelas e o silvo fininho incomoda-te; o relógio antigo de parede move-se lá longe na sala, ao som de um tic tac oco que te irrita profundamente. O bebé dos vizinhos do 9º Esq chora com fome e tu tapas os ouvidos impaciente; o casal do andar de baixo ama-se nos gemidos da noite e o teu corpo contorce-se de inveja. Acima de tudo... as almofadas ainda cheiram a mim e tu não aguentas de saudades.
A minha imagem de demónio de saias habita em ti, vive nas pequenas coisas com que te deparas diariamente: a minha escova de dentes esquecida no copo da casa de banho, o meu CD favorito no móvel da sala, o meu livro na tua escrivaninha, a minha camisa de dormir virgem na tua gaveta e a minha fotografia onde te sopro um beijo que se mantém teimosa na mesa-de-cabeceira.
Dás mais uma volta, das mil e uma voltas que darás esta noite, tentando inutilmente dormir. Exaspera-te ver-me sair (imaginariamente) da banheira embrulhada na toalha a pingar de amor e desejo por ti; enfurece-te a minha chegada (ilusória) à cama com um body sexy a sorrir atrevida, amargura-te o meu corpo nu (sonhado) e outrora conquistado debaixo do cetim dos teus lençóis; entristece-te o vazio e o silêncio quando tudo o que querias era o meu sorriso doce e apaixonado, deitado na cama ao teu lado.
E a noite vai caminhando a passos dolorosamente lentos ao encontro da madrugada. As horas passam e o meu olhar não chega para te seduzir, as minhas mãos não surgem para te desbravar, a minha boca não vem com sabor a pecado e mel e eu sou apenas um eco, uma miragem, das tuas noites mais felizes.
Gosto de te imaginar assim...uma fera acossada consumida pela fome de mim, pelas saudades de nós e os segundos passam e arranham-te a alma numa insónia sem fim.
Sabes que essas noites de angústia e solidão podiam ter um fim, não sabes? Sabes que eu posso chegar antes do nascer do sol e trazer mais luz à tua vida, não sabes?
Posso... por ti... em ti... contigo... eu posso tudo...
Posso amar-te com a paz que os teus dias desejam e com a loucura que as tuas noites precisam.