Hoje acordei com uma estranha sensação de vazio, de frio, de solidão… Foi a primeira vez que acordei no dia do meu aniversário com um estado civil diferente, foi a primeira vez que acordei sem vozes estridentes a cantarolar desafinadamente os “Parabéns”, foi a primeira vez que acordei sem um beijo, um mimo.... Levantei-me da cama com a determinação de quem queria fazer deste dia, um dia especial, com a convicção de que não me queria deixar arrastar pela vida, mas sim vivê-la. Mas os pés e as pernas não obedeceram à minha ordem e aninhei-me novamente no edredon com vontade de me esconder, deste dia, de mim, da vida, com a esperança de adormecer e só voltar a abrir os olhos no dia seguinte. Quando finalmente ganhei coragem, levantei-me. Os pantufinhas ainda dormiam de bochechas encarnadinhas e cheirinho a bebé, acerquei-me deles, beijei-lhes o rosto e admirei-lhes a tranquilidade do sono. Olhei-os com a certeza de que, talvez, na minha vida só eles valham a pena, só eles mereçam o meu amor, só eles me amem, só eles olhem para mim como se eu fosse a pessoa mais importante das suas vida e que… só eles precisem de mim. Caiu então a primeira lágrima, aquela que sufoquei na alma e na garganta desde que abri os olhos e senti-a no rosto como uma espada afiada. Sempre detestei fazer anos. …e este ano, as recordações de tudo o que fui e não sou, de tudo o que eu tive e perdi, de tudo o que eu desejo e não alcanço, deram um nó no meu peito... Então pensei «-É isto que escolhes para o dia dos teus anos? É um dia horrível que pretendes ter? Tu fazes o teu dia, tu é que escolhes como ele vai ser!!!» Entrei no duche decidida a deixar de ter pena de mim, decidi que a água do meu banho iria lavar toda a tristeza, toda a minha alma. Não sou a primeira, não serei a última... Vesti-me o melhor que pude, pintei-me, enchi-me de perfume e fui preparar o pequeno almoço. Decidi que faria a minha «festa» ao amanhecer. Quando os pantufinhas viram o bolo, as velas e os balões nem queriam acreditar, pensavam que as festas só se faziam ao lanche e ao jantar, e ali estávamos nós, às 7h 30ms da manhã a festejar. Os seus sorrisos, os seus beijos provaram que por eles tudo vale a pena, e que eles são tudo aquilo que preciso para ser feliz.
Às vezes não sei o que hei-de fazer com a vida, vejo os dias sucederem-se num comboio estúpido e sem estações conduzido por um maquinista louco que não faz a mínima ideia onde acaba a linha e o pior é que nem quer saber. O comboio desliza sobre os carris cada vez mais depressa como se a qualquer instante perdesse a aderência e descarrilasse e então imagino as carruagens tombadas com as vísceras das minhas memórias espalhadas por todo o lado, a vida desmantelada no que já foi uma experiência rica e cheia, e que agora não vale nada.
Às vezes é preciso aprender a perder, a ouvir e não responder, a falar sem nada dizer, a esconder o que mais queremos mostrar, dar sem receber, sem cobrar, sem reclamar. Às vezes, é preciso partir antes do tempo, dizer aquilo que mais se teme dizer, arrumar a casa e a cabeça, limpar a alma. Às vezes, mais vale desistir do que insistir, esquecer do que querer. No ar ficará para sempre a dúvida se fizemos bem, mas pelo menos temos a paz de ter feito aquilo que devia ser feito, somos outra vez donos da nossa vida. Às vezes, é preciso abrir a janela e jogar tudo borda fora, queimar cartas e fotografias, esquecer a voz e o cheiro, as mãos e a cor da pele, apagar a memória sem medo de a perder para sempre, esquecer tudo, cada momento, cada minuto, cada passo e cada palavra, cada promessa e cada desilusão, atirar com tudo para dentro de uma gaveta e deitar fora a chave. Porque quem parte é quem sabe para onde vai, quem escolhe o seu caminho, mesmo que não haja caminho, porque o caminho se faz a andar. O sol, o vento o céu e o cheiro do mar são os nossos guias, a única companhia, a certeza que fizemos bem e que não podia ser de outra maneira. Quem fica, fica a ver, a pensar, a meditar, a lembrar. Até se conformar e um dia então, esquecer.
À noite, a solidão torna-se ainda mais pesada, tornam-se ainda mais dolorosas as recordações e as saudades. Perco-me em ti, nas lembranças de nós, daquilo que vivemos (e poderíamos ter vivido?) Sei que ainda me amas, por tudo o que te fiz sentir, por tudo o que te fiz sonhar, pela comunhão dos nossos corpos e segredos. Deixa-me olhar-te… uma vez mais… para fotografar-te na minha essência e nunca deixar apagar esse teu sorriso. Deixa-me questionar-te: sentes a minha falta? Deixa-me perguntar-te ainda, se me amas nestas noites, quentes, enluaradas, e se desse lado, a solidão também toma conta da tua vida. Deixa-me perguntar-te ainda, se acreditas que um dia destes vais abrir os olhos com a certeza de acordar ao meu lado. Sempre que te vejo, todo o meu ser estremece, acordam todas aquelas imagens que tento a todo o custo adormecer (E tu? Também me tens nos teu sonhos?) Sempre que o meu rosto toca no teu a minha pele arrepia-se porque só o teu toque, o teu aroma provoca em mim todas estas emoções (e a tua pele será que ainda se recorda da minha?) Sempre que te olho, nos olhos, esqueço-me da luz do Sol (o que é um raio de sol perto da luz que emanas?). Sempre que te beijo perco-me na magia das estrelas mas nenhuma estrela consegue brilhar em mim com a intensidade com que tu brilhas.
Não posso negar o que vi, o que cheirei, o que senti, o que amei. Não posso negar que fui feliz, se fecho os olhos e sinto ainda todos os instantes felizes. Não, não posso negar que atravessei rios contigo, que te ensinei o nome das estrelas, que ouvimos juntos os pássaros e o vento nas árvores, que caminhei pelas ruas de mãos dadas contigo e que houve outros momentos que não foram tão felizes (…) mas havia uma luz ao fundo e essa luz indicava o caminho. Enquanto me lembrar estarei vivo e, vivendo, não deixarei morrer quem caminhou comigo, ao longo do caminho.
Não Te Deixarei Morrer, David Crockett, Miguel Sousa Tavares
Tenho muito orgulho em ser Portuguesa. Acho que vivo num país magnífico, com paisagens fantásticas, praias lindíssimas, serras verdejantes, monumentos magníficos, uma gastronomia deliciosa… enfim poderia a escrever sem parar sobre aquilo que mais aprecio neste pequeno rectângulo à beira mar plantado, mas não é isso que me traz por aqui. Hoje, pelas treze horas, ao ouvir as notícias num canal televisivo, o jornalista anunciou que em apenas quatro horas, cerca de 900 pessoas tinham sido autuadas na cidade de Lisboa por excesso de velocidade. Parece mentira, não parece? Todos nós ouvimos nos últimos dias na comunicação social que a partir de hoje os radares não iriam perdoar e, mesmo assim, os “pés de chumbo” acharam que seriam mais espertos. Confesso que me irritam aqueles automobilistas que não respeitam o código da estrada, que não respeitam regras e acham que elas só existem para lhes complicar a vida. Não percebem que se assim não fosse viveríamos numa selva, e se é isso que querem… mudem-se para lá. Acho uma aberração o número de mortos nas nossas estradas, são uma vergonha nacional num país, dito, evoluído. Gostaria que apreciassem este vídeo que aqui vos deixo, que é mais uma prova de que certos condutores nada vêem para além do seu umbigo, e como tal, são um verdadeiro perigo público. Para refectir…
Tu odiar-me-ás e eu nada poderei fazer, senão sofrer o teu ódio em silêncio, sofrê-lo na carne, como açoites, dilacerando o meu corpo que foi teu tantas vezes, como nunca foi de mais ninguém. Assim vou vivendo sem ti e sem procurar saber de ti. Mas sei de mim, sei do imenso vazio da tua falta, que nada preenche nem faz esquecer. Sei das horas que continuo a atrasar-me no hospital para não chegar cedo a casa. Sei dos desvios que faço para não te encontrar e não deixar que destruas um pouco mais do que se escaqueirou. Sei do jogo cruel dos casamentos, dos baptizados e do Natal em família, isso a que tu chamas “a via sacra da hipocrisia”, sei das horas sem sentido que deixamos para trás. E que interessa, afinal, saber se sou feliz, assim? Por que perguntas sempre isso, quando me encontras? Por que te satisfaz tão fraca desforra, como se a tua sobrevivência já só se pudesse alimentar da minha impossibilidade de ser feliz. E porque não és tu feliz, então? Tu que tens tudo para isso e que és livre, nada te prende e nada deves a ninguém senão a ti próprio? Por que permaneces amarrado a mim como o último marinheiro de um navio velho que nunca mais navegará e que, em lugar de embarcar noutro barco, noutro destino, permanece grudado na ponte de comando inútil, envelhecido com o seu barco, ressequido e amargo? Vive tu. Vive por nós. Não deixes que eu te destrua. Não me deixes mais esse peso. Naveguei até ao cais onde tenciono ficar e morrer, mas evitei o naufrágio em mar alto e não me deixarei afundar aqui, encostada à terra firme.
Não Te Deixarei Morrer, David Crockett, Miguel Sousa Tavares
Não, não tentes apagar-me da tua vida porque durante muito tempo no teu coração, eu vou viver. Aqueles detalhes, tão pequenos e insignificantes de nós dois vão persistir, resistir, porque são coisas muito grandes para esquecer. E a cada passo que deres, nessa tua vida tonta, agitada, vão estar presentes… vais ver. O olhar meigo, o sorriso, as coxas macias e acetinadas, a voz embargada, o corpo, a alma, ou qualquer outra coisa assim, imediatamente, vão fazer-te… lembrar de mim. Calculo que outra mulher deva estar a sussurrar ao teu ouvido, palavras de amor como eu sussurrei, mas eu duvido… duvido que ela tenha tanto amor e até as metáforas do meu português ruim, e em todos esses momentos…vais-te lembrar de mim. À noite, quando a lua e as estrelas entrarem pela janela e envolverem o silêncio do teu quarto, antes de dormir procuras a minha imagem. Mas da moldura não sou eu quem te sorri, apesar disso, ouves as minhas gargalhadas mesmo assim, e tudo isto vai fazer-te… lembrar de mim. Se os dedos de alguém tocarem o teu corpo como eu... não digas nada. Quando a boca que te saborear o sal da pele, não for a minha... nada digas. Cuidado…. para não gemeres o meu nome baixinho, sem querer, à pessoa errada… Pensando que é amor o que sentes nesse instante, desesperado, tentas até o fim… e até nesse momento mágico… vais-te lembrar de mim. Eu sei que todos estes detalhes vão evaporar-se na longa estrada. O tempo tem o dom de transformar um grande amor em quase nada. Mas também é mais um detalhe, uma história de amor como a nossa, não vai morrer assim… por isso, de vez em quando… vais-te lembrar de mim.
A madrugada não tem palavras que te impeçam de abandonar o meu amor, e partir. Nem as sombras das nossas silhuetas, desenhadas com lágrimas nas paredes do quarto, têm voz, que te impeçam de virar costas e sair. Deixas em mim, tanto de ti, tanto da tua essência, sempre que vais embora. Matam-me os dias contínuos, em que a alma jaz nesta cama abandonada. Há mil anseios de alma por cumprir, e o relógio não pára e nunca perdoa. Não sei quanto tempo, o tempo nos deu, nem sei dizer porque é que ainda te trago em mim. Sei apenas que é nas asas do Vento que te invento, que te amo, que te recordo. Não sei também o que a estrada da vida nos reserva. Mas sei das ruas por onde me deixei guiar, de olhos vendados, confiante, no calor da tua mão. Sei dos becos secretos, proibidos onde nos perdemos. Sei das coordenadas do mapa que me ensinaste, mapa esse que apresentava as linhas mestras do meu corpo, da minha vida, dos meus sentidos. Mas tenho medo porque o caminho é infinito quando se caminha sozinha e a espera não tem fim. Invento-te num Oceano novo, pleno de liberdade. Navegas à deriva, porque também me queres, fincas as mãos nesse mastro que sou eu e tentas comandar os nossos destinos. Beijas-me nessa réstia de sopro de vida, enquanto a vida nos faz naufragar mesmo a chegar ao porto. E morro… morro porque te perco em cada onda do mar. A cada gaivota traiçoeira que de mim insiste em te levar.