Aqui te amo. Nos obscuros pinheiros o vento desenlaça. A lua fosforesce sobre as águas errantes. Dias iguais se perseguem.
A névoa se desenha em figuras dançantes. Uma gaivota de prata se descola do ocaso. Às vezes uma vela. Altas, altas estrelas. Ou a cruz negra de um barco. Só. Às vezes amanheço, e até minha alma está húmida. Soa, ressoa o mar distante. Este é um porto. Aqui te amo.
Aqui te amo e em vão te oculta o horizonte. Estou te amando ainda entre estas frias coisas. Às vezes vão meus beijos nestes barcos graves, que correm pelo mar até aonde não chegam.
Já me creio esquecido como essas velhas âncoras. São mais tristes os molhes quando a tarde atraca. Minha vida se afadiga faminta inutilmente. Amo o que não tenho. Tu estás tão distante. Meu fastio faz força com os lentos crepúsculos. Mas a noite chega e canta para mim. A lua faz girar sua roda de sonho.
Me olham com teus olhos as estrelas maiores. E como eu te amo, os pinheiros no vento querem cantar teu nome com suas folhas de cobre
Gosto muito de ouvir Tom Jobim a cantar este tema. A sua voz melodiosa transporta-nos para outra dimensão. Gosto especialmente da letra do poema, apesar de não concordar com algumas afirmações. Não acredito em Amor Eterno, prefiro aquela frase que diz «Onosso Amor é eterno… enquanto dure». Não me levem a mal, eu sou uma romântica incurável, amo de forma intensa, entrego-me de alma e coração ao ‘objecto’ amado, mas não acredito que os sentimentos se mantenham inalteráveis. A vida desgasta o amor, a vida desgasta-nos, e quando damos por isso, está cada um para o seu lado. As juras de amor eterno dão lugar a uns «grunhidos» imperceptíveis, a luz dos nossos torna-se baça, a chama do desejo extingue-se.
Percebo, no entanto, os argumentos de Tom Jobim, ele considera que irá amar o resto da vida devido ao factor distância. As despedidas, as ausências, as separações permitem que se guarde numa caixinha de cristal, dentro do nosso coração, a pessoa amada, guardando assim também todo o amor que se lhe tem.
Se por um lado a distância aumenta o grau do sofrimento, tem a grande vantagem de não nos deixar desiludir; de não nos deixar assistir à transformação do Príncipe em Sapo, ou daBarbie em Sopeira. Mantemos apenas a imagem que nos interessa manter, que na grande maioria dos casos nem sequer corresponde à realidade.
Eu Sei que Vou te Amar
Eu sei que vou te amar, Por toda a minha vida eu vou te amar. Em cada despedida eu vou te amar, Desesperadamente. Eu sei que vou te amar
E cada verso meu será P’ra te dizer, que eu sei que vou te amar Por toda minha vida!
Eu sei que vou chorar, A cada ausência tua eu vou chorar. Mas cada volta tua há de apagar O que esta ausência tua me causou.
Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver A espera de viver ao lado teu Por toda minha vida.
Meu Deus, me dê a coragem De viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites, Todos vazios de Tua presença. Me dê a coragem de considerar esse vazio Como uma plenitude. Faça com que eu seja a Tua amante humilde, Entrelaçada a Ti em êxtase. Faça com que eu possa falar Com este vazio tremendo E receber como resposta O amor materno que nutre e embala. Faça com que eu tenha a coragem de Te amar, Sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo. Faça com que a solidão não me destrua. Faça com que minha solidão me sirva de companhia. Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar. Faça com que eu saiba ficar com o nada E mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo. Receba em teus braços O meu pecado de pensar.
Clarice Lispector
Mais do que um poema, este texto é uma verdadeira oração. O vazio de alma deixado pelo abandono provavelmente só pode ser superado com intervenção divina. Como preencher o vazio? Como seguir em frente? Como voltar a encontrar o amor?
Adoro Praias... quanto mais longinquas, mais isoladas, mais naturais, melhor.
Naqueles dias negros em que me apeteci subir à mais alta montanha e GRITAR, imagino-me num local como este, só meu, sem ninguém. Uma praia esquecida no tempo e no espaço onde cada onda leve as minhas lágrimas, mais salgadas que o próprio mar. Onde cada grão de areia me avive todas as memórias, onde o sol energize a minha alma, me liberte e me faça voar.
Fecho os olhos...mergulho na imensidão do mar, deixo que a água purifique todo o meu corpo e todo o meu ser, peço às sereias e todos os deuses do mar para que me libertem de todo a mal estar, de todas as minhas tristezas e me façam esquecer... porque só assim eu poderei renascer...
Recordo o meu Camões, que tão bem soube expressar o que me vai na alma:
Para se fazer uma obra de arte, não basta ter talento, não basta ter força, é preciso viver também um grande amor.(Mozart)
Se o amor for grande, A espera não será eterna, Os problemas não serão dilemas, E a distância será vencida.
Se a compreensão insistir, As brigas fortalecer-nos-ão, Os factos far-nos-ão rir, E os diálogos marcar-nos-ão.
Se o respeito prevalecer, Os carinhos serão doces e suaves, Os beijos profundos e cheios de valor, E os abraços calorosos e confortantes.
Se a confiança existir, A dúvida se extinguirá, As perguntas serão respondidas, E as palavras poderão ser ditas.
Talvez não seja um amor eterno. E não é um amor doentio, Nem um amor ideal. Mas um amor verdadeiro.
Aquele que vence as barreiras Impostas pela vida e pelas ocasiões. Aquele que não teme a escolha, E faz a opção de simplesmente Ser intensamente vivido.