Ensino em Portugal - Visto pelos Professores
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Há dias em que a vontade de desistir do ensino é notoriamente superior à vocação. (Parabéns, Senhora Ministra, se era esse o seu objectivo, conseguiu!) Estou colocada numa escola que se situa longe da minha casa, todos os dias faço 140 kms, pago em cada mês 250 euros de combustível, 110 euros de portagens (sem qualquer subsídio ou ajuda complementar). Em Janeiro volto a estar desempregada, uma vez que a colega que estou a substituir irá assumir as suas funções. O facto de entrar às 8h 30ms, todos os dias, obriga-me a levantar às 5h 30ms e, o pior de tudo, obriga-me a levantar duas crianças pequenas da cama uma hora depois para os ir entregar a uma alma generosa, que toma conta delas enquanto o estabelecimento de ensino que frequentam, não abre as suas portas. Hoje, do meu horário escolar constavam funções docentes a três turmas, num total de três blocos de noventa minutos cada. Para além disso tinha, mais uma, reunião de Departamento que se iniciou às 18h30 e que só terminou às 21h 30ms. Nesta reunião, cerca de 20 professores lamentavam o sistema de avaliação em Portugal, procuravam soluções para um modelo cheio de erros, incorrecções, incongruências que não beneficia em nada os alunos e só serve para que os docentes sejam criaturas amargas no exercício das suas funções. Estive 13 horas a trabalhar na escola, entre aulas, correcção de trabalhos e a reunião. Quem me paga as horas extraordinárias? Quem é que toma conta dos meus filhos após o fecho da Instituição que frequentam às 19h 30ms? Quem é que os vai buscar à escola, lhes dá banho, os ajuda a fazer os TPC, os mete na cama e lhes dá um beijo de boa noite, enquanto eu cumpro horas extraordinárias, participo numa avaliação fantoche com o alto patrocínio do Ministério da Educação? Mas que espécie de mãe sou eu que abandono os meus filhos ao cuidado de terceiros com a desculpa esfarrapada que estou a cumpri o meu papel de professora e que (quer eu queira, quer não, quer os pais concordem, ou não), me obrigam a fazer o papel de mãe dos filhos dos outros. Cheguei a casa às 22h 30ms, exausta, desiludida, cheia de saudades dos Pantufinhas que dormiam serenos. Hoje estive com eles das 6h30 às 7h15ms, apenas nestes preciosos 45 minutos usufruí da companhia dos meus filhos. Ainda tenho que acabar de corrigir uns exercícios que os meus alunos fizeram, dar os últimos retoques nas aulas de amanhã. À semelhança dos dias anteriores, vou para a cama por volta das 02.00 e acordo três horas e meia depois para ir novamente trabalhar.