Férias de Verão com Sabor a Inverno
por aspalavrasnuncatedirei, em 01.08.08
Ao longo das últimas semanas preparei-me para as férias dos Pantufinhas. Sabia que o dia 1 de Agosto chegaria e, com ele, as minhas duas pantufas iriam meter os pezitos ao caminho e lá iriam quinze dias de férias com o pai. Imaginei que aproveitaria essa altura para actualizar algum trabalho a que não tenho conseguido dar resposta, pensei nos papéis que iria finalmente arrumar, nos livros que iria ler, nos CD’s que iria ouvir e nos filmes a que iria assistir. Lembrei-me ainda que era uma excelente altura para visitar amigas em cidades distantes, comer com elas um gelado na esplanada, beber chávenas de chá pela madrugada fora. Pensei também que seriam dias ideais para fazer caminhadas, aquelas como eu gosto – quando o sol começa a acordar e o cheiro das torradas invade as ruas. Lembrei-me que iria ao ginásio queimar o pneu teimoso, fazer sauna e banho turco, nadar até ficar sem fôlego e dormir, dormir, dormir. Enfim… cuidaria um pouco de mim. Mas a realidade é sempre diferente daquilo que imaginamos e hoje, assim que os meus pequenos Indianas Jones partiram à aventura, senti-me tolhida por uma imensa tristeza, por uma terrível sensação de vazio. O divórcio é isso mesmo… mais do que um corte entre duas pessoas, é uma divisão de seres, é uma divisão de objectos e, dolorosamente, é uma divisão de afectos. Negoceiam-se carros e casas, móveis e pratos, livros e DVD’s, quadros e tapeçarias… E o pior de tudo: negoceiam-se os filhos: o seu afecto, a sua educação, os seus tempos livres. O Natal, outrora a união da família, passa a ser dividido em jantar da mãe e almoço do pai, ou vice-versa; e o mesmo acontece na Páscoa, nos aniversários e em todas as datas especiais. Enquanto num casamento dizemos: «- Eu vou buscá-los à escola.», num divórcio perguntamos se podemos ir, e estranhamente, alguém que tem tantos direitos e obrigações como nós, passa os dias a pedir (para as mais insignificantes coisas) a nossa autorização. E os filhos? Como será a cabeça de uma criança pequena, relativamente a este assunto? Com muita frequência oiço alguns pais (a tentar tapar o Sol com a peneira) dizer que as crianças ganham tudo a dobrar: dois quartos, duas férias, dois Natais dois aniversários, com presentes a dobrar… (como se num divórcio alguém ganhasse alguma coisa)… Os filhos podem ganhar tempo útil com os seus progenitores, podem até ganhar uma nova família mas invariavelmente também se sentem divididos. Estar com a mãe implica não estar com o pai, divertir-se com um, implica a ausência do outro. Já repararam que uma criança filha de pais divorciados diz sempre «- Vou para casa do meu pai», «-Estive em casa da minha mãe» a criança deixa de dizer «-A minha casa!», deixa de ter um sentimento de pertença a um lar, a um espaço e, por isso, desiludam-se aqueles que pensam que ela tem tudo a dobrar. Em situações como esta dá-me para divagar, para fazer uma viagem ao centro de mim, por isso neste dia em que o silêncio da casa é ensurdecedor, em que as paredes da casa se transformam em muros, em que o céu azul se transformou num dia cinzento de Inverno, aninho-me no beliche que tem enraizado aquele aroma a que cheiram os abraços dos meus filhotes e decido ficar ali numa atitude de consciente masoquismo. Deixo que as recordações me assaltem, de outros Verões, de outras praias, dos seus sorrisos. Deixo que as lágrimas me lavem a alma e molhem a almofada, deixo que o meu espírito se solte e vá brincar com eles na água do mar, construir castelos de areia, comer um Olá fresquinho e uma Bolacha Americana. E hoje foi só o primeiro dia