Quanto mais te apago, mais te acendes
É inútil esta minha insistência em tentar esquecer o que sinto por ti e em abandonar a ideia de que um dia fizeste parte da minha existência porque… quanto mais te tento apagar e transformar em cinzas, mais te acendes de forma radiosa em mim.
Foi por isso que desisti, deixei-me cair no chão frio, acenei o lenço branco pedindo paz, baixei os braços em sinal de tréguas, cessei de gritar e de tentar desesperadamente fazer-te escutar o meu amor, através da minha voz já tão cansada. Decidi entretanto silenciar o batimento do meu coração, que a cada compasso bombeia o teu nome, respirei fundo e admiti que na vida há um tempo para amar e um tempo para deixar ir; uma época para rejubilar de contentamento e uma estação para enxugar as lágrimas; há instantes de prazer supremo mas também existem dias de sofrimento inigualável, e por último, temos ocasiões para vestir o corpo com as cores da felicidade, para logo a seguir nos trajarmos de luto na alma e de negro no corpo.
Todos os dias recomeço, paulatinamente, esta tarefa hercúlea de te esfumar, quando a cada amanhecer o teu sorriso me acomete nas recordações de te ver na cama ao meu lado, fecho os olhos para te guardar e deixo que essas imagens divaguem sobre mim. Ao olhar-me ao espelho se procurar no reflexo a essência do que restou de mim depois de ti, e se for o teu rosto delicado que recebo de volta, aceito que assim seja e já não luto contra isso porque reconheço que o meu melhor… continuas a ser tu.
Sempre que o peito começa a doer de saudades e as lágrimas me invadem em cascatas de dor, já não fujo para a rua para dissimular que estou bem, não me escondo em jantares com amigos, não aplico horas extraordinárias ou coisas insignificantes, nem me perco em passeios por ruas apinhadas de gente e desertas de ti. Deixo simplesmente que despontes, que me assoles, que me desarrumes as gavetas do corpo, da alma, das emoções e sentidos, porque negando-te é fazer-te (re)nascer em mim, com mais ímpeto, com a voragem típica que só entende… quem viveu um grande amor.
E aqui estou, no mesmo sítio de sempre; cá me encontro no local de todos os dias, nem sei bem à espera de quê, aguardo apenas pacientemente a cada amanhecer que (me) passes, que te dissolvas, que te apagues...de vez…
-------------------------------------------------------------------------------
Texto: Sandra Barbosa
(Todos os direitos de autor reservados)
Imagem: Retirada da Internet