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aspalavrasnuncatedirei

Há palavras que nunca chegam ao destino...fazem uma longa e amarga travessia pela solidão dos sentidos e morrem na escrita destas crónicas.

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Há palavras que nunca chegam ao destino...fazem uma longa e amarga travessia pela solidão dos sentidos e morrem na escrita destas crónicas.

Voltar atrás no tempo

por aspalavrasnuncatedirei, em 03.04.16

 

Tempo6.jpg

Gostava de ter um relógio mágico que me permitisse retroceder os seus ponteiros em algumas situações da minha vida, não para alterar o que quer que fosse, pois o rumo que os meus dias tomaram não podia ter sido mais perfeito, mais harmonioso, mas porque gostava de poder sentir novamente algumas sensações.

 

Voltar atrás no tempo… para sentir o abraço o meu avô e encontrar-me no reflexo dos seus olhos inundados de lágrimas sempre que me via, passear naquela mota especial que ele tinha, com um banquinho atrás que eu achava que tinha sido lá colocada especialmente para mim.

 

Queria poder inverter as horas para dar a mão à minha mãe e ir com ela, vestida de bibe ao xadrezinho vermelho e branco, até ao infantário, pendurar-me no seu pescoço e dar-lhe beijos repenicados, pedir-lhe com voz de mimo que me viesse buscar depressa e sentir o aroma, que ainda hoje guardo, da sua pele que sempre me cheirou a Pink Lotion da embalagem cor-de-rosa.

 

Perder-me nos fios do tempo… para ser uma outra vez uma maria-rapaz, brincar em cima das árvores com os meus primos e vizinhos, andar em cima dos telhados no Alvorão, fugir dos ralhetes e enfrentá-los com gargalhadas atrevidas mas felizes.

 

Quem me dera tornar a vestir capa e batina e sentir os acordes a tilintar na minha alma provocados pelas serenatas nas escadas da Sé Velha de Coimbra, voltar a cansar-me a subir as belas Escadas Monumentais, saborear um café na esplanada do Trianon em Celas, passear com as amigas pela ancestralidade do Jardim Botânico, enquanto fazíamos planos para um futuro que nunca chegou, acordar ao som da Tuna de Medicina debaixo da minha janela e sentir borboletas na barriga ao som do “Donzela que sempre amarei”. Voltar a fazer promessas de amor eterno na Fonte dos Amores e sonhar com histórias de personagens com finais felizes.

 

Pudera eu passar novamente pela sensação maravilhosa de dar a minha primeira aula ao 10ºB em Pombal, o palpitar do coração a bater de forma descontrolada, as mãos geladas, a voz que teimava esconder-se nas profundezas assustadas do meu ser, mas acima de tudo, ver o olhar daqueles meninos e meninas, que foram os meus primeiros alunos e cujo nome ainda hoje sei de cor. Beber-lhes novamente os sorrisos doces que funcionavam como varinhas de condão no combate a todo o meu nervosismo. Mal eles sabem o tanto que me ensinaram sobre a professora que queria ser e um laço invisível e inquebrável de carinho e respeito ficou até hoje.

 

Viajar no tempo…até aquele dia de outono em que me vesti de branco, com vestido de princesa, protegida pelo véu dos sonhos e me senti a mais bonita das mulheres enquanto desfilava numa passadeira em direção ao “Para sempre…” e que afinal se revelou apenas no “Enquanto valer a pena”… caminhar com a certeza que a felicidade estava a meia dúzia de passos à minha frente e viver num conto de fadas enquanto não acordasse desse sono profundo.

 

Queria tanto, mas tanto, sentir novamente o meu corpo a transformar-se com os meus filhos a ganharem raízes dentro de mim… revisitar esse momento mágico em que os abracei pela primeira vez, em que a palavra “Mãe” me passou a definir, em que todo o universo que sou se resumia a dois anjos que se escapuliram do céu só para poderem atravessar o fio da eternidade e fazerem de mim a origem das suas vidas. Queria que o meu peito voltasse a ser a fonte do seu alimento, só para os poder olhar nos olhos e rezar baixinho, a quem quer que seja responsável pela felicidade das crianças, para que os protegesse, para que lhes desse colo, para que preparasse para eles um futuro risonho e cheio de amor.

 

Voltar atrás no tempo… até aquele fim de tarde em que os nossos caminhos se cruzaram, sem coincidências, porque não acredito na sua existência, contra todas as probabilidades…ali estava eu…ali estavas tu e o que senti também queria recuá-lo no tempo, aquele momento mágico em que me olhaste nos olhos e me senti nua…. aquele momento ilusionista em que percebi que depois de ti, nunca mais nada na minha vida seria igual.

 

……………………………………………………………………….

Texto: Sandra Barbosa

(Todos os direitos de autor reservados)

Imagem: Retirada da Internet

 

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