Hoje doeste-me
Estava ainda deitada, não precisei abrir os olhos, naquele mesmo instante o meu pensamento esvoaçou ao teu encontro. Senti uma dor aguda, daquelas que se propagam por todo o corpo e que o deixam dormente durante horas. É frequente este estado quando me dóis, ficas latente em mim, agarrado à minha essência o dia inteiro.
Já me levantei pesada, é difícil carregar-te nos meus ombros franzinos e cansados uma vez mais. Outro dia inteiro a sonhar-te, a lembrar-te, a respirar-te. É sempre assim, tento esquecer-te, apagar-te, distraio-me como posso, trabalho mais horas para ocupar os pensamentos negligentes, leio mais livros para me distrair com histórias de finais felizes, oiço mais música para esquecer a tua voz, como mais chocolates para dissolver o teu gosto da minha boca, bebo mais vinho para atordoar a tua imagem em mim, passo mais horas no ginásio para que o corpo não chame por ti.
E no fim, do dia, quando regresso à cama, ainda me dóis mais. São os ecos das tuas histórias a partilhar comigo o teu dia, são as tuas pernas quentinhas onde aqueço os meus pés gelados, são as trocas de mimo que só quem ama conhece, são as muralhas do teu peito onde descanso a cabeça para dormir.
Hoje doeste-me… por isso vou dormir para te apagar de mim, porque enquanto durmo esqueço que existes e habitas num mundo do qual eu não faço parte, nada temo ao adormecer, há muito tempo que não sonho contigo e não tenho a sorte de me encontrar contigo nas estrelas da noite.