Também não sei viver, só estou a improvisar
E no meio da discussão, das lágrimas que caíam de par em par, das palavras que mutilavam como espadas ela gritou num pedido de socorro “- Também não sei viver, só estou a improvisar!”. Este desabafo atingiu-o como uma seta. Largou o orgulho, livrou-se da raiva, libertou-se da necessidade machista de ter sempre razão e deu dois passos decididos para ela, agarrando-a com determinação para a calar com um beijo.
Um beijo…era tudo o que era preciso para colocar um ponto final naquela discussão, prendeu o seu rosto com as mãos para impedi-la de fugir. Tinha de a fazer sentir naquela união de corpos que ela era a tal, aquela que os poetas versam em sonetos, aquela para quem os compositores conceberam as mais belas sinfonias, aquela por quem esperara a vida toda porque lhe traria o amor. Abraçou-a sem deixar que o beijo terminasse, naquele corpo delicado e franzino havia toda uma fortaleza onde ele habitava e sem o qual já não saberia viver.
Quando o beijo começou a desmaiar não deixou que a sua boca tivesse descanso, lentamente sobre os seus olhos, sobre a pele maravilhosamente perfumada e macia foi depositando todo o seu carinho e balbuciou inseguro com medo da resposta “ – Fica…eu também não sei viver mas quero improvisar a minha vida contigo”.