Nunca me esqueci de ti
Fecho a porta do carro, a chave desliza pela ignição e de imediato o Rui Veloso senta-se no banco ao lado a cantar “Nunca Me Esqueci de Ti”. Fecho os olhos… inspiro fundo… penso inevitavelmente em ti… O meu pensamento voa pelos acordes da melodia… vejo-te aproximar com esse sorriso que me fez apaixonar por ti. Houve um tempo em que sabia de cor todos os teus movimentos, as cores que vestias, o perfume que usavas, os livros que te adormeciam na mesa-de-cabeceira. Hoje desconheço as estradas por onde caminhas, os terrenos que exploras, os socalcos em que tropeças, as areias movediças que te envolvem, a relva macia que te faz cócegas nos pés. Onde te levam hoje os teus passos?
A vida é feita disto mesmo: as pessoas cruzam-se, fazem o mesmo caminho lado a lado durante um tempo, que se quer sempre longo, e acabam por se perder nas encruzilhadas do tempo. Os nossos caminhos não são estradas planas, alcatroadas, lisas, desenhadas com traço fino de pincel. São cruzamentos sombrios, com cores escuras e misteriosas. Nunca sabemos onde nos levam os atalhos e caímos na ilusão constante que aquele é o caminho mais perto. Ainda não chegámos a meio e já nos assalta o desejo de voltar para trás, mas o caminho inverso é proibido, é próprio dos fracos e daqueles que se recusam a aceitar um erro e crescer com ele, por isso, enchemos o peito de ar, limpamos as lágrimas à manga da camisa e avançamos, a medo, tremulamente, com a crença, o desejo de que melhores caminhos virão. Quando estes chegam, abrimos as janelas da alma de par em par para que o ar viciado nos abandone e inundamos os pulmões de ar novo, vida nova e continuamos a caminhar felizes.
A música parou, antes de abrir os olhos despeço-me de ti, da tua imagem que sempre me acompanha, agradeço-te teres caminhado ao meu lado e tudo o que me ensinaste sobre o amor. A vida dá muitas voltas, caminhamos hoje por estradas distintas mas…nunca me esqueci de ti.