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aspalavrasnuncatedirei

Há palavras que nunca chegam ao destino...fazem uma longa e amarga travessia pela solidão dos sentidos e morrem na escrita destas crónicas.

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Há palavras que nunca chegam ao destino...fazem uma longa e amarga travessia pela solidão dos sentidos e morrem na escrita destas crónicas.

Diz-lhe que é fantástica!

por aspalavrasnuncatedirei, em 29.11.15

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Todos os homens têm na sua vida uma Mulher Fantástica e mesmo que apregoem aos sete ventos o quão especial ela é, às esquecem-se de o dizer a quem realmente precisa de ouvir – a própria!

Já lhe disseste hoje que é Fantástica, quando acorda, mesmo com os olhos ensonados, o cabelo desgrenhado e sem vontade de se entregar às agruras de mais um dia de trabalho? Diz-lhe!

Já lhe disseste que valorizas a forma como ela, uma verdadeira fada do lar, se dedica à vossa casa, ao cuidado com que arruma, limpa o pó, com que aspira, organiza as compras, o carinho com que cozinha a forma como passa a ferro (mesmo detestando) só para que o vosso ninho seja um reflexo de tranquilidade e harmonia? Diz-lhe!

Já lhe disseste que admiras a forma como educa os vossos filhos, o amor que lhes dedica, o sacrifício a que se entrega todos os dias e todas noites, principalmente naquelas em que eles choram e que só ela ouve e se levanta cheia de frio? Diz-lhe!

Já lhe disseste que adoras a forma como prende o cabelo num rabo-de-cavalo, porque deixa à mostra o seu pescoço longo e alvo e as suas orelhas pequeninas, onde brilham os brincos que lhe ofereceste, que adoras vê-la de saltos altos, porque isso acentua o comprimento das suas pernas esguias e que adoras ver o seu decote atrevido quando desabotoa o último botão da camisa? Diz-lhe!

Há quanto tempo não a olhas nos olhos e lhe dizes baixinho que te sentes feliz por tê-la na tua vida? Que todos os dias quando colocas a aliança no dedo estás a dizer a ti próprio “- Eu escolho ter-te na minha vida hoje” e que a amas a cada segundo mais um bocadinho? Diz-lhe!

A mulher é a mais forte criatura que Deus colocou na Terra, é do seu corpo que são feitos os homens, são elas que ajudam a erguer e a destruir impérios, são elas que educam os filhos, que os amam, que sofrem, que vivem e matam só para os proteger. Mas há nas criaturas femininas uma vulnerabilidade latente que és tu, que é o seu amor por ti, que precisa ser alimentado com pequenas coisas. Ela sabe que a amas, mas tens de lho dizer, é preciso demonstrá-lo, porque ela faz-te exatamente o mesmo em pequenos gestos diários, que tu nem sempre vês.

Já disseste à Mulher Fantástica da tua vida o quanto a amas e admiras? Diz-lhe!

Às vezes no silêncio da noite…

por aspalavrasnuncatedirei, em 29.11.15

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Fui à gaveta buscar a mantinha axadrezada de mimo, enrosquei-me nela, no calor de um chá de maçã com canela e na paixão de um livro. Acendi a lareira para que o crepitar da madeira me aquecesse os sonhos, coloquei aquele CD que habitualmente sopra os seus acordes nos dias mais intranquilos e recostei-me sobre as almofadas no chão.

Comecei a leitura preguiçosa de uma história que me fizesse esquecer de mim, novas personagens, novos enredos, finais felizes era tudo o que eu queria para as horas silenciosas desta madrugada. Traiçoeira, a minha mente leva-me até ao teu sorriso tímido, até ao negro penetrante dos teus olhos, aos teus braços fortes que imagino ternos à minha volta. O teu rosto vai e volta como uma fantasma atrevido que me circunda, rodopia, sussurra… só para me obrigar a assumir que penso em ti, bem mais do que queria, bem mais do que devia. Coloco o livro de lado, deixo aquela história para depois, fecho os olhos e inspiro-te, permito à minha imaginação voar livremente ao teu encontro, na esperança que também penses em mim e que as nossas almas se encontrem a meio do caminho.

A voz possante de Nina Simone traz-me de volta à sala, canta ironicamente “I Put a speel on you” faz-me indagar se exerço sobre ti o mesmo fascínio que tens sobre mim. Este jogo de gato e rato, de toca e foge, de quero mas não posso, este pó de perlimpimpim que se chama desejo, que se faz muito mais de vontades do que de poções mágicas… serei eu, entre nós, a única a sentir-me assim?

As horas preguiçam descaradamente ao meu lado no sofá, o chá arrefece na minha caneca favorita, as cinzas adormecem distraídas na lareira e eis que chega de mansinho Caetano Veloso. Traz a viola ao ombro, mão no bolso, sorriso de quem já conquistou o mundo, debruça-se sobre mim dando-me um beijo terno na testa. Senta-se nas almofadas ao meu lado e canta baixinho só para mim: “Às vezes no silêncio da noite… eu fico imaginando nós dois… eu fico ali sonhando acordado… juntando o antes, o agora e o depois…” e evapora-se deixando-me sozinha novamente.

Uma lágrima estranha, cujo significado é indecifrável escorre pela minha alma. Não sei o que é isto que sinto… mas queria tanto que estivesses aqui…

A outra

por aspalavrasnuncatedirei, em 27.11.15

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Há uma outra mulher na tua vida e eu preciso de respostas para pacificar os demónios ciumentos que me devoram a alma, consomem a autoestima e destroem o que restou de mim. Quem é esse alguém que te levou da nossa vida? Desde quando me tornei invisível aos teus olhos? Há quanto tempo dura essa tua felicidade de cordel construída em cima da minha ignorância e da confiança que sempre tive em ti?

Responde: quem é ela? É em alguma coisa é parecida comigo? Contigo? Como são vocês? Há quanto tempo sonhas com ela dormindo comigo? É mais alta, mais elegante do que eu? É mais magra,  mais gorda? Como lhe marcas os dedos famintos na carne e lhe arrepias a pele? E o cabelo: moreno cigano, louro anjo ou é uma ruiva demónio? Que fragância se desprende quando o vento lhe despenteia o cabelo?

Também lhe dizes que é linda e sorris de desejo enquanto lhe desapertas o fecho do vestido? Como é a textura do cetim do seu soutien e da renda das ligas? (Ela usa ligas?) A que cheira o seu colo? A que sabem os seus seios? Que gosto tem o sal que lhe escorre da pele? Como é a temperatura do seu corpo... é quentinha como eu? Tem as mãos frias como as minhas? Tem as unhas compridas… enterra-tas nas tuas costas?

Essa mulher… como te descobre o corpo? Como te destapa das máscaras que usas? Como te liberta da roupa para se aprisionar a ti? Como te beija? Também te mordisca o queixo? Saboreia-te lentamente a orelha com a língua quente e lânguida? Devora-te o pescoço com lábios quentes? Como te toca nesses mistérios que só eu conheço, como descobriu a origem de todo o teu ser? Diz-me agora: como te dá prazer?

No conforto dessa cama que foi minha, será que te olha nos olhos quando faz amor contigo? E tu… refletes-te no brilho dos seus olhos? O que vês? Quem vês? Alguma vez fechaste os olhos para me veres a mim? E nesse momento, quando os corpos se abandonam à voragem do sexo, se fundem no clímax dessa paixão adúltera, ela grita descontrolada ou geme baixinho? Alguma vez gritaste de felicidade quando o teu corpo se contorceu de êxtase e prazer?

Há uma outra mulher na tua vida… És amado por ela como foste por mim? Gostas dela? Estás apaixonado? É amor o que sentes? Será que gostas dela como um dia me amaste?

Será que realmente me amaste?

Só o vento sabe de que cor que pintámos o amor

por aspalavrasnuncatedirei, em 25.11.15

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Só o vento sabe de que cor pintamos este Amor! Eu pintei-o de branco porque era inocente, hoje pinto-o de verde na esperança do teu regresso. Tu pintaste-o de vermelho porque para ti eu era apenas um corpo de desejo. Hoje pinta-lo de negro porque já fizeste o luto de tudo o que fomos, de tudo o que vivemos.

 

Mas na tela em que vou pintando a minha vida, pergunto-me se alguma vez saí de perto de ti, se alguma vez pensaste em mim com carinho ou enxotaste a minha imagem do véu dos teus olhos. Questiono-me se retiraste do teu coração o fascínio de caminhar lado a lado, a minha mão na tua ausência, os teus dedos no meu desejo. Gostava de saber se alguma vez foste assaltado pela partilha enclausurada da ternura ou pela inconcebível inexistência do tempo.

 

Por aqui, recordo a forma inconsistente as escapadelas noturnas, sob a enorme lua diluída, as horas loucas, mergulhadas na abstração desta caminhada, que fazíamos unidos por um destino comum, mas que hoje se move em direção a nada...

 

De que cor pintas ainda o nosso amor?

O dia em que te esqueci

por aspalavrasnuncatedirei, em 20.11.15

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Há um dia em que finalmente tudo passa, vais para a cama e adormeces profundamente, sem sonhos ou pesadelos, sem depositar na almofada as grossas e salgadas lágrimas que andaste o dia inteiro a conter. Acordas de um sono reparador, levantas-te decidida da cama, saltas para o duche sorridente, Já não te embrulhas à toalha que ele usava no banho, à espera de ainda sentir o seu aroma, vestes uma roupa elegante e colorida e quando colocas perfume, já nem te lembras da pessoa que to ofereceu.

Chega sempre o momento em que ao pegar no telefone te sentes tranquila, sabes que não tens mensagens especiais daquele por quem há tanto tempo esperas e, quando ele toca, já não largas tudo para ir a correr atender, pois sabes que a pessoa em que pensas, há muito que te esqueceu.

Um dia também, consegues finalmente frequentar aquela esplanada com vista para o mar, beber o teu café, ler o teu livro, apanhar sol no rosto, inspirar a brisa sem ter o coração em sobressalto, sabes que aquele com quem partilhaste, naquele mesmo lugar, sonhos e beijos ternos, não vai chegar e sentar-se na cadeira ao teu lado.

Há um momento na tua vida em que já não choras quando ouves a música que tanto te fez sorrir, já não te emocionas quando vês um filme romântico, já não olhas para a estrela polar pedindo como o teu maior desejo, o amor daquele que talvez nunca te tenha amado.

Há um dia em que a dor adormece e esqueces tudo o que aconteceu. Que pena que esse dia não seja hoje…

Camisa Branca

por aspalavrasnuncatedirei, em 16.11.15

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Assim que cheguei à porta de casa percebi que estavas lá dentro. Rodei lentamente a chave na fechadura e nessa fração de segundo fui assaltado por mil pensamentos. Estarias mesmo ali? Ao fim de tantos meses, depois de um silêncio tão grande? Claro que sim! O aroma do teu perfume é inconfundível e desde que cheguei ao Hall que fui invadido por ele.

 

Lentamente abri a porta e, como eu desejava, à minha frente estavas tu. Exatamente como sempre te imaginei, como te sonhei dolorosamente nos últimos tempos. Tinhas a minha camisa branca vestida. Adoro ver-te com ela, sabes disso,por isso a escolheste. As mangas levemente dobradas deixam ver a candura da tua pele, os botões, meio abertos, meio fechados, insinuam a curva do teu peito, a brancura do tecido deixa ver os contornos do teu corpo. Atrás de ti, e devido à claridade que entrava pela janela, visualizei a tua lingerie preta, as tuas pernas, e lá estavam as meias-ligas (huumm sempre as achei tão sexys).

 

Olhei-te nos olhos e percebi que lias os meus pensamentos, senti-me corar ligeiramente. Tive vontade de te tirar a camisa branca, de te despir, de fazer amor contigo ali no Hall de entrada, e matar assim, todos os desejos, todas as saudades que tinha tuas. Mas tive medo de te assustar… (talvez porque eu também me sentia assustado).

 

Aproximei-me, abracei-te com suavidade, com medo que fosses uma miragem e que eu estivesse a delirar. Com medo de te apertar com força e que tu te dissipasses como uma bola de sabão. «- É bom ter-te aqui.»  Foi a única coisa que balbuciei enquanto senti o meu rosto tocar no teu. Senti o teu corpo tremer. Nunca percebi se tremias de frio, porque lá fora a neve batizava os incautos que passeavam na rua (e tu vestias apenas a minha camisa branca) se tremias de emoção por me sentir ali tão perto.  Não sei quanto tempo durou aquele abraço, mas senti que podia continuar assim o resto da noite… o resto da vida… e enquanto o abraço durasse, sabia que não ias voltar a partir.

 

Desprendeste-te do meu abraço e levaste-me para a cozinha. À minha espera estava uma mesa requintadamente preparada. Não esqueceste a elegância da toalha, a magia das velas, o meu vinho e o meu prato favoritos. Durante o jantar falaste de trivialidades e eu olhava-te sorridente e conversadora e senti que não te podia voltar a perder, e que este era o teu lugar. 

 

Fui preparar o café. Continuei a observar-te e percebi que apesar do teu corpo estar ali tão perto, o teu espírito tinha-se ausentado. Vi o teu olhar perdido na janela, observando a Vida a fluir lá fora. Num flashback recuperei a memória dos dias em que te perdias na paisagem da minha janela.

 

«- É bom voltar a estar aqui.» Disseste, parecendo regressar. Por um momento senti a tua voz embargada e pensei que estivesses a chorar. Olhei-te novamente. Lá estavas tu, debruçada sobre a janela, com a minha camisa branca… e à contra luz voltei a ver os contornos do teu corpo…a tua lingerie preta… a renda das tuas ligas…Como uma trovoada inesperada de Agosto, aproximei-me de ti e tomei-te de assalto. Não pedi licença, não me fiz anunciar, tomei o teu corpo, no meu corpo, porque é meu, porque me pertence, porque ardia em desejo, porque quis fazer amor contigo desde que te vi ao entrar. E tu entregaste-te como sempre fizeste, sem perguntar como nem porquê, deixaste-te ir como um rio que corre para o mar, como a folha que se deixa guiar pelo vento. E enquanto a neve gemia ao tocar nos vidros lá fora, tu gemias de prazer nos meus braços.

 

Agarrei-te ao colo, depositei-te no ninho que sempre foi a nossa cama e que ficou tão fria desde que foste embora. Amei-te com paixão, com saudade, devoção e desejo, com a minha camisa branca a testemunhar aquela união dos nossos corpos.

Adormeci exausto. Adormeci feliz. Estavas ali outra vez, em minha casa, no meu quarto, na minha cama, protegida pelos meus lençóis.

 

De manhã acordei… sozinho… uma brainstorming assolou os meus pensamentos. Teria sonhado contigo? Terias realmente estado ali? Teria feito amor contigo? Sinto tanto a tua falta que já não distingo os sonhos daquilo que é a realidade… mas parecia tão real…  Fechei os olhos na esperança de voltar a sonhar contigo, aninhei-me no teu corpo imaginário, deslizei as minhas mãos pelo espaço que naquela cama te pertencia e senti, debaixo da almofada algo que me era familiar… Esbocei um sorriso. Levaste novamente o teu ser, o teu corpo, a tua alma, mas deixaste o teu perfume… na minha camisa branca.     

Hoje lembrei-me de ti

por aspalavrasnuncatedirei, em 15.11.15

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Hoje lembrei-me de ti, com carinho, com ternura (ou seria ainda uma réstia de desejo e paixão?). Recordei as tuas mãos pequenas, os dedos franzinos numa mão de criança, as tuas unhas imaculadamente pintadas de vermelho; veio-me à ideia a pele acetinada dos teus braços que me envolviam o pescoço, os lábios que me sabiam sempre a batom de cereja e que brilhavam num sorriso ora tímido, ora atrevido; veio à minha memória o teu riso de menina, a tua alegria, as tuas gargalhadas contagiantes.

Pensei em enviar-te uma mensagem, mas não soube o que escrever. Pensei telefonar-te, mas há coisas que não se dizem pelo telefone. Decidi guardar-te para mais tarde…Depois percebi que passei a minha vida inteira (nossa vida) a agir assim: guardar-te para mais tarde. Ficava tudo para depois: o beijo que me esquecia de te dar de manhã, ou o que distraído não te dava quando regressava a casa; o toque no teu cabelo perfumado acabado de lavar, ou na tua pele onde deslizavas o creme de baunilha; a conversa sobre o teu dia, ou sobre as minhas chatices que me importunavam tanto; o elogio à tua elegância da qual só me lembrava quando os meus amigos te olhavam com olhos de apetite.

Não foi por mal acredita, nunca te amei menos nesses instantes, apenas pensei que tinha tempo, que podia ficar para depois porque continuarias ali. Conheces-me bem, sou exímio na arte de procrastinar.

Um dia, depois de tantos avisos à navegação para que mudasse esta minha maneira de ser, evaporaste-te da minha vida sem deixar rasto e eu continuo à tua procura na bruma.

Hoje, como em todos os dias, lembrei-me de ti…Eu queria um mundo onde tu não existisses, uma vida feita apenas com o meu egoísmo viril composta de amigos e jantaradas, mulheres e futebol. Mas tu és a estrada que sei que me leva ao meu destino, és a fonte onde bebo a água que me alimenta, és a luz que afasta os espetros sombrios dos meus dias, és o verdadeiro amor que depois de ti não encontrei e mais ninguém. 

Anjo Bom & Anjo Mau

por aspalavrasnuncatedirei, em 14.11.15

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Considero-me boa pessoa, sei que há dentro de mim um anjo que me instiga diariamente com as suas asas a ser uma pessoa melhor, mas também há um anjo mau que desperta algumas sensações menos boas em mim…

 

Anjo Mau, aquele que acorda comigo, que desliga com violência o despertador e que me pede para ficar embrulhada nos lençóis mais um bocadinho, sorte a minha que se desprende da alvura da almofada o Anjo Bom que me dá um beijo meiguinho e me diz: «- Levanta-te minha querida, tens um dia maravilhoso à tua espera, não desperdices nem mais um minuto». E eu, decidida levanto-me.

 

Dentro do closet ao escolher a roupa, sou invadida pelo Anjo Mau que me tortura: ”Que trapos são estes? Não vais para a rua assim vestida, pois não? Essa saia tem décadas, essas calças já não se usam. Estás a precisar de ir às compras…» Afortunadamente o Anjo Bom sai de uma gaveta e diz-me sorridente «Meu amor, veste o teu vestido branco, calça uns saltos altos, solta o cabelo e…sorri.” Faço-lhe a vontade e lá vou eu.

 

Já a caminho do trabalho o Anjo Mau strikes again: “Mas tu não podias andar mais depressa? Que lesma!!! As regras foram feitas para serem quebradas, sabes disso, não sabes? Acelera! Despacha-te, dá emoção à tua vida logo de manhã! “ E da coluna do meu carro ecoa a voz do Anjo Bom: “ Já viste que dia lindo está hoje? Já reparaste no dia lindo que está hoje? Já viste as paisagens maravilhosas à tua volta?” Abro o vidro, olho pelo fresco da janela e inspiro risonha.

 

Chego ao local de trabalho e procuro um lugar para estacionar. «- Deixa em cima do passeio!» diz o meu amigo reguila. «-Deixas um pouco mais longe, mas fazes uma pequena caminhada matinal que te fará bem à saúde» diz o meu amigo celestial. Deixo o carro no parque e vou fazendo jogging.

 

No escritório, o Anjo Mau atormenta-me todo o dia: “Estás rodeada de incompetentes! Porque raio fazes o teu trabalho e o dos outros? Já viste que não para um segundo? Vai tomar um café e demora-te a ler o jornal. São horas de almoço, larga o computador!” Felizmente que o Anjo Bom vai-me sussurrando «Já viste a sorte que tens em fazer o que gostas? Como te sentes por poder ajudar tantas pessoas à tua volta? És uma excelente profissional e eu orgulho-me muito de ti! E continuo debaixo de uma montanha de papéis a fazer o melhor que sei, o melhor que posso.

 

Fim do dia… chego a casa e o jantar está por fazer e o cansaço não me dá tréguas. O meu amigo de vestes escuras alicia-me: «Deita-te no sofá, encomenda uma pizza e todos vão ficar felizes.» O meu amigo de vestes imaculadas aconselha: «Toma um duche, despoja-te do pó deste dia, faz uma salada e um peixinho grelhado, confeciona-os com amor porque as boas energias vão ser absorvidas pela comida e farás a tua família feliz. Tomo um banho de imersão, encho a banheira de sais, mergulho durante meia hora e vou grelhar salmão.

 

Hora de ir para cama. E agora sou eu que escondo o Anjo Bom na gaveta, dou duas voltas à cheve e chamo pelo Anjo Mau, afinal sou uma Mulher Fantástica e nunca disse que queria ser perfeita.

 

Faz acontecer...

por aspalavrasnuncatedirei, em 11.11.15

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 Faz acontecer entre nós um encontro daqueles que parece ser obra do acaso, mas mais não é do que uma bela artimanha do destino que mexe habilidosamente os cordelinhos para nos unir. Entretanto, faz acontecer os teus olhos perderem-se no azul dos meus, num daqueles momentos mágicos em que a boca nada diz porque as palavras são inusitadas,  mas em que o corpo tudo sente. Faz acontecer passeios à beira-mar daqueles em que me salpicas com ondas cristalinas, me molhas a roupa, me fazes escorregar na areia da praia e aproveitas a oportunidade para me dar um beijo salgado que apaixonadamente escorre mel. Faz acontecer... jantares à luz das velas, eu não sou esquisita, não precisa ser uma refeição gourmet, acende os castiçais  que eles  acenderão os meus sonhos, deixa que fique apenas latente a luz dos nossos desejos. Faz acontecer noites de sofá aninhados um no outro, transforma os teus braços quentinhos num abrigo singelo que me protege do frio, deixa-me ouvir apenas o bater do teu coração a sussurrar o meu nome. Faz acontecer o diálogo das pequenas e das grandes coisas, dá voz aos problemas e às diferenças que se instalem pela corrosão dos dias, deixa que haja obstáculos difíceis para resolver, porque a cada dificuldade superada o amor será mais forte.

 

Faz acontecer...que eu faço valer a pena.

 

 

Resquícios teus (em dias felizes)

por aspalavrasnuncatedirei, em 10.11.15

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Entraste na minha vida com doçura,  conquistando o meu coração em forma de fortaleza, foste ficando em mim devagarinho e,  por alguma razão que desconheço, deixaste resquícios teus por todo o lado.

 

Começa logo pela manhã, não adianta trocar os lençóis, há sempre um fio louro e encaracolado que poisa na tua almofada. Fecho os olhos e deslizo os meus dedos na esperança de imaginariamente te tocar e a tua imagem acentua-se naquele instante, mais um bocadinho.

 

Levanto-me decidido a não me deixar sucumbir a estas saudades, e vou tomar um duche,  mas também agora a tua imagem volta a perseguir-me. Consigo vislumbrar os corações que desenhavas com batom vermelho no espelho da casa de banho e no ar, ainda sinto o teu perfume, impregnado nas paredes. Dou mais um passo, vou para o duche e enrolo-me à toalha que, por mais que a lave, cheira sempre a ti. As gotas do teu corpo que a toalha embebe ficam gravadas neste turco macio em que agora me enxugo.

 

E a saga continua, vou para o closet escolher uma camisa, e de repente, cai de um dos teus esconderijos secretos, um Post It, onde leio "Have i told you lately that i love you". E perco-me na voz do Van Morrison e neste tema de que tanto gostas. E fecho os olhos, vejo-te sorridente à minha frente a cantar este tema. Meu Deus, como tu desafinas minha menina, mas não vejo a hora de te ver chegar para te ouvir cantar novamente. Pergunto-me porque é que nunca dançamos esta ou outro música , sempre adoraste dançar, mas não me lembro de te ter embalado os passos, ao ritmo de canções de amor.

 

Ia jurar que da cozinha me chega entretanto o aroma das torradas e dos teus ovos mexidos. Nunca tive coragem de te dizer, mas sabes que os teus ovos são os piores do mundo? Com a tua mania das dietas (nunca precisaste de as fazer) cortas na manteiga, na cebola de uma forma criminosa.

 

Preparo-me para ir trabalhar, enquanto arrumo uns papéis descubro um Ferrero Rocher acompanhado de um bilhete "na falta de um beijo doce, deixo/te aqui um bombom". São estas pequenas coisas que alimentam o nosso amor, o tempo passa e sinto que a nossa estória veio para ficar, são imagens envolventes que acompanham a azafama dos meus dias, tais como o teu nariz pequeno, a forma como prendes o cabelo atrás da orelha, a forma como as tuas mãos minúsculas se perdem dentro das minhas, a maneira como metes os teus pés gelados nas minhas pernas só para os aqueceres. 

 

Há resquícios teus em todo o lado, nos dias frios e chuvosos que eu adoro, mas que sei que tu detestas... resquícios até das tuas sardas quando olho para os pingos de chuva no vidro do carro e que me lembram esse teu rosto tão lindo. Resquícios... nos livros antigos que folheio e que me cheiram a ti, que têm as manchas das tuas lágrimas nas páginas finais, porque te doi acabar uma história e perder os heróis do romance. Há resquícios das tuas pernas compridas sentadas ao meu lado no carro, resquícios do teu batom de morango que eu adorava roubar em forma de beijos.

 

Há resquícios teus quando abro a caixa do correio e lá dentro encontro um postal teu inesperado "É nas pequenas coisas que demonstramos o que sentimos pelos outros. É nas pequenas coisas que as pessoas nos fazem sentir que somos amadas por elas. Desejo-te uma vida cheia de pequenas coisas". Dizia o último dos teus postais, um dos teus muitos resquícios.

 

Não sei quem uniu os nossos caminhos, confesso que gostava de saber a quem agradecer ter-te colocado no meu caminho. A Deus, ao Destino? À vida? A mim, que lutei contra as tuas frases evasivas e te envolvi com a minha persistência?

 

Mas o meu amor por ti não é um resquício, é inteiro, é pleno, é teu.

 

 

 

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