Cartas de Amor
“Todas as cartas de amor são ridículas” dizia Fernando Pessoa na pele de Álvaro de Campos mas apesar da enorme admiração pelo hortónimo e pelo heterónimo, não podia discordar mais.
Numa era em que as tecnologias tomaram conta das nossas vidas e se tornaram o veículo da manifestação das nossas emoções, continuo a ser apologista, e uma séria defensora, das cartas de amor.
Que bom que é escolher um papel bonito, ir buscar a nossa melhor caneta, aquela que nos faz a letra mais bonita, e desenhar um laço que una o nosso coração àquela folha em branco. Custa começa, eu sei, é verdade, são tantos sentimentos que se atropelam, cada um deles a querer manifestar o seu carinho, o seu desejo, a sua paixão. São apressados, não fazem fila, não se organizam ordeiramente e a nossa mão, de repente, é impelida a escrever em êxtase tudo o que lhe vai na alma.
E sim, aqui até podemos ser um bocadinho “ridículos” mas ao amor tudo é permitido, não nos coibimos de usar palavras tolas, doces, diminutivos, metáforas, hipérboles e um sem número de recursos estilísticos que sejam uma expressão sintomática de tudo o que sentimos.
Depois assinamos, perdemos infindáveis minutos a escolher a expressão certa para colocar termo a tão importante missiva, não queremos ser lamechas, não queremos ser formais, queremos apenas que o destinatário daquelas palavras sinta, quão verdadeiro é, aquilo que escrevemos.
Fechamos a carta, seguramos o selo como se fosse de cristal e colamo-lo com jeitinho. Olhamos emocionadas para aquele pedaço de amor branco que vai voar dos nossos dedos. Depositamos-lhe um beijo na esperança que a acompanhe ao longo de todo o trajeto e que ainda esteja fresco no momento da receção.
Ao colocar a nossa carta no correio ficamos com um sorriso doce a imaginar o rosto daquele a quem escrevemos. Imaginamos a sua perplexidade ao abrir a sua caixa do correio, imaginamos o seu olhar iluminado ao ver a nossa letra, a sua admiração ao reconhecer-nos no remetente e a sua felicidade ao descobrir o que nos ia na alma.
Enviar uma carta de amor a quem amamos, pode ser uma forma antiquada de manifestar os nossos sentimentos, mas é sem dúvida uma forma bonita de marcar a diferença.