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Há palavras que nunca chegam ao destino...fazem uma longa e amarga travessia pela solidão dos sentidos e morrem na escrita destas crónicas.

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Há palavras que nunca chegam ao destino...fazem uma longa e amarga travessia pela solidão dos sentidos e morrem na escrita destas crónicas.

Only Love Can Hurt Like This

por aspalavrasnuncatedirei, em 31.10.15

 

 

Só o amor nos pode ferir e rasgar a alma de uma forma que nenhum outro sentimento consegue. Que se desenganem aqueles que pensam que amar alguém é o mais bonito dos sentimentos, que estar ligado a outro ser é o mais forte dos laços e que o bater dos corações em uníssono é uma vibração que só às almas gémeas pertence.

 

O amor é uma chaga a céu aberto, todos os dias sangra mais um bocadinho, alimenta-se das palavras azedas, dos olhares vazios, dos gestos incautos, dos pormenores esquecidos a cada dia que passa. Só o amor nos pode ferir assim.

 

Onde um dia houve paixão, hoje há indiferença, onde um dia houve gargalhadas de alegria, hoje ouve-se o pingar das lágrimas a tilintar no chão, onde numa noite a lua brilhou entre as estrelas, hoje vivem memórias ofuscadas pelo denso nevoeiro, onde um dia a boca recebeu um beijo com o néctar dos deuses, hoje escorre o veneno das lembranças, onde um dia a pele se arrepiou pela volúpia dos sentidos, hoje há um corpo seco e estéril prestes a sucumbir.

 

Só o amor te poderá ferir assim, mas jamais fujas dele, mesmo sabendo que a grandiosidade do amor que sentes será proporcional à imensidão do sofrimento que experimentarás. Deixa doer, deixa sangrar, deixa-te morrer, porque pelo menos aí, saberás que estás viva.

 

 

Love You for a Thousand Years

por aspalavrasnuncatedirei, em 19.10.15

 

 

Acredito na intemporalidade do amor, na viagem que as almas companheiras fazem através do véu dos tempos, só para se encontrarem. Há amores assim, que na sua grandeza, não se esgotam numa única vida, precisam voltar à terra de vez em quando para se completarem. Por essa razão existe muitas vezes no coração das pessoas, uma profunda sensação de vazio, porque mesmo que tenham alguém ao seu lado que as faça sentir bem, nunca se sentem completamente preenchidas, há sempre qualquer coisa que não as faz viver em pleno aquele sentimento.

 

Olham para o espelho e perguntam onde é que está o erro, onde é que se perderam nesta trajetória dos dias, porque é que não dá certo? A resposta é simples: porque não é amor…é amizade, companheirismo, desejo, interesses vários…mas não é amor. Amar alguém é aceitar essa pessoa como ela é, como os seus inúmeros defeitos, com as suas incomensuráveis falhas, com os ecos do seu egoísmo, com a voragem dos seus conflitos interiores…devastadores…

 

Amar alguém é continuar a escolher aquele ser humano, mesmo que ao nosso lado gravitem outras pessoas: podem ser mais bonitas, mais inteligentes, mais sensíveis, mais alegres, mais leves, podem amar-nos mais e até melhor, podem ser exatamente aquilo que queremos, aquilo com que sempre sonhámos, mas estão longe de ser o que desejamos porque o nosso coração continua a gritar aquele nome que muitas vezes nos faz sofrer, mas que é também o nome a quem se deve toda a felicidade desta viagem pela vida.

 

Esta vida…a vida que vim viver… tem o teu nome timbrado na minha voz, tem o teu nome gravado na minha pele, sempre o teu nome esculpido no meu corpo. E se este amor não for vivido agora, eu sei que um dia os nossos destinos se vão voltar a encontrar, porque amo-te há mil anos… e amar-te-ei… por mil anos mais…

 

Faz frio

por aspalavrasnuncatedirei, em 17.10.15

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 Faz frio. A chuva bate nas vidraças anunciando que o Inverno chegou e que veio para ficar. Encho a banheira com água a ferver, perfumo-a com sais especiais e mergulho.

 

São tão poucos os momentos de silêncio, são tão escassos os momentos de tranquilidade e naquela água fumegante há todo um Universo de energias a recuperar. Invade-me uma sensação de calor e prazer, toda a minha fadiga se dissolve naquela temperatura, todo o meu corpo agradece o conforto.

 

No leitor de CD toca Sting confirmando aquilo que há muito tempo sei… How fragile are we are. Saio da banheira e mimo o meu corpo com óleo de canela previamente aquecido, um aroma adocicado envolve todo o quarto. Massajo cada centímetro de pele, hidrato um pouco da minha autoestima. Esqueço as imperfeições, ignoro os centímetros a mais, esqueço os centímetros a menos e valorizo o meu corpo naquilo que é… naquilo que eu sou.

 

Faz frio. Aqueço o meu chá verde com jasmim, coloco as almofadas no chão e meto mais lenha na lareira, deixo que a manta de pelo de ovelha me aninhe, fecho os olhos e agradeço… No brilho do lume da lareira incendeiam-se episódios da minha vida. A infância, a adolescência, os amigos de outrora, os amigos de hoje, os amigos de sempre. A família mais próxima, aqueles que já partiram e aqueles que mesmo longe, estão sempre perto. Os filhos… o nascimento, o primeiro sorriso, o primeiro abraço, o primeiro «mamã».

 

Faz frio… o meu coração vai aquecendo quando lembro os degraus que subi, dos patamares que alcancei, dos trambolhões que dei. Curiosamente, a cada ferida, lambi o sangue, a cada nódoa negra, espalhei a pomada, a cada queda… ergui-me novamente. Não sei onde me agarrei, de que muletas me servi, só sei que encontrei energia para continuar a subir.

 

Faz frio… não interessa a temperatura lá fora, interessa o que eu sinto no peito. Fecho os olhos… o lume crepita… o chá arrefece… adormeço…

Amazing Song

por aspalavrasnuncatedirei, em 17.10.15

 

 

I Won’t let you fall

por aspalavrasnuncatedirei, em 16.10.15

 

 Habitas uma fortaleza onde não deixas ninguém entrar, e da qual estranhamente não queres sair porque te dá a segurança de quem precisa da zona de conforto para poder respirar e sobreviver.

 

Uma vida cheia de desilusões provocadas por aqueles que mais amavas, o sofrimento causado pela partida de quem mais querias, o vazio deixado por quem jurara que jamais iria partir, transformou a doçura do teu coração em letal veneno, que usas e abusas para te alimentar tentando assim afastar os outros de ti. Os teus olhos, outrora azuis brilhantes, projetam apenas o cinzento do fundo do mar e o teu coração que antes voava pelos teus sentidos, fechou-se numa caixa imaginária da qual perdeste a chave com medo de voltar a amar.

 

Eu surgi numa tarde de Verão, com a frescura de uma manhã de primavera e não consegui ficar indiferente à pessoa que surgia diante de mim. Apaixonei-me naquele segundo porque a minha alma há muito que se tinha apaixonado por ti. Deslumbrei-me com a descoberta do homem maravilhoso que és, cada dia ao teu lado era um presente abençoado.

 

Hoje, volvido algum tempo, se tivesse de escolher uma palavra para te definir, escolheria antítese. Nesse homem que és e por quem me apaixonei um dia, existe a dicotomia de um ser que gosta de mim mas não me quer amar, viveste anos e anos de amor despedaçados contra as rochas na praia, e olhas para mim como se eu fosse mais uma onda com o mesmo destino.

 

És a pessoa mais verdadeira, doce e meiga que cruzou no meu caminho, mas agora foges por atalhos de frieza sem deixar pegadas que eu possa seguir. Da mesma forma que um dia depositaste beijos com sabor a mel na minha boca, calas-me agora com amargos silêncios e esforçaste-te a todo o custo para deixar este amor sucumbir.

 

Os valores que reconheceste na minha alma e que apregoaste como basilares para a nossa vida em comum, esses valores que içaste como estandarte ao vento, apagas neste instante com uma borracha mágica, dizendo que não passou tudo de um engano.

 

Se é amor que sentes, dá-lhe vida, sê vida porque o meu amor por ti não se vai evaporar, se sentes que o céu está a desabar sobre ti e te deixa submerso em nuvens de abandono, tristeza e sofrimento, acredita que eu irei procurar-te nesses escombros e irei trazer-te novamente ao percurso cristalino que o universo traçou para ti…traçou para nós…

 

É fácil amar nos dias de sol, nos dias em que o vento sopra a nosso favor e a sua brisa nos impele a seguir de mãos dadas o nosso caminho. Fácil é viver uma relação marcada pela confiança do que se sente, pela verdade dos propósitos pela honestidade do que sentimos. Difícil é dizer “Olá” e receber um “Adeus”; difícil é querer proteger alguém que orgulhosamente não precisa de nós, difícil é querer abraçar alguém que não suporta o contacto da nossa pele, difícil é amar alguém que nos responde “Gosto de ti” quando lhe dizemos “Amo-te”; difícil é aceitar partir quando tudo o que queríamos era ficar.

 

Mas se o amor que floresce no nosso peito for verdadeiro, reconhecemos que todas as dificuldades existem para esculpir este diamante em bruto. Desconfio sempre daquilo que é fácil, daquilo que não dá luta, daquilo que não se conquista. Só queria que algures, nesta voragem do tempo, chegasses à mesma conclusão que eu.

 

Trust me…I won’t let you fall…

How to save a life?

por aspalavrasnuncatedirei, em 15.10.15

save me.jpg

 

Where did I go wrong,

I lost a friend somewhere along in the bitterness.

And I would have stayed up with you all night,

had I known how to save a life.” 

 

How to save a life? Pergunto ao espelho olhando nos olhos do meu reflexo. Como salvar-me das garras acutilantes do amor? Como salvar-me da chama dessa paixão que no fim de tantos anos ainda me consome? Como libertar-me da dor do esquecimento? Como aceitar que depois de já ter sido um feixe de luz, só reste cinza em tudo aquilo que sou?

Só tu tens a vacina para curar esta enfermidade, só te ti vem o antídoto que pode trazer-me novamente à vida. Só no teu beijo encontro a respiração que insufla a minha esperança de vida, só nas tuas mãos encontro a bússola que me faz descobrir o trilho a seguir, só nos teus olhos encontro a luz que servem de farol às minhas travessias e só no teu sorriso sedutor encontro a felicidade para o meu caminho.

Where did I go wrong? Qual das minhas palavras te feriu? Qual dos meus beijos te amargou a boca? Qual das minhas ações te afastou de mim? Quando é que deixei de ser bonita aos teus olhos? Quando é que o teu coração se encantou por outra mulher? Quando é que eu deixei de ser suficiente?

How to save (my) life? O tempo ajudar-me-á a encontrar a resposta, não vai ser hoje, não vai ser amanhã, não sei se será nesta vida, mas o tempo encontrará a chave que vai abrir o caminho, ao meu sorriso novamente.


 

Ícaro (ou a metáfora da ambição humana)

por aspalavrasnuncatedirei, em 14.10.15

 

icaro.PNG

Ao revisitar lendas e mitos, encontramos estórias na História da Humanidade, que servem de espelho aos caminhos que traçamos para a nossa vida. São enredos que se definem por graças e desgraças, medos e conquistas, vitórias e derrotas e que nós descobrimos com maravilhamento. Ao ler as aventuras desses seres mitológicos percebemos aquilo que nos define como seres divinos, que também somos e, ao mesmo tempo, aceitamos neles a sua fragilidade dentro da imortalidade…

 

Os últimos anos da minha vida fizeram-me tropeçar no mito de Ícaro. Aquele que teve tudo para ser feliz (o pai, Dédalo, contruiu umas asas que lhe permitiu concretizar o sonho do Homem – voar) mas nele a ambição falou mais alto, e aproximou-se demasiado do sol, derretendo assim as asas coladas com cera de abelha, acabando o jovem morto, no leito de um grande rio.                          

Todos nós queremos voar, se possivel a quatro asas, ter alguém por perto que nos incentive ao voo quando estamos cansados, que nos dê alento quando desejamos parar, que nos devolva um olhar feliz só porque partilhamos aquela viagem.

 

Mas voar pode ser para o homem um sonho perigoso: começamos por timidamente levantar os pés do chão, ensaiamos pequenos momentos de levitação, mais tarde ganhamos coragem e ensaiamos percursos mais longos, até que confiantes nos lançamos a novos destinos. Até aqui tudo bem, nada há de errado. O problema instala-se quando o desejo e o prazer de voar, se transformam em obessessão. É típico do Homem ter pés e desejar asas, ter a Terra e querer atravessar o Mar, conquistar Oceanos e depois confrontar-se com a vontade de possuir a Lua. Passo a passo, desejamos sempre o que não temos e vamos experimentando a vida para ver até onde ela nos leva.

 

Construímos canoas, fortes embarcações, aviões, foguetões… mas queremos sempre mais…queremos voar a céu aberto…queremos chegar ao sol… E depois de todos os sucessos alcançados e mediante a felicidade que nos envolve, aventuramo-nos desafiadoramente como o Ícaro. Sabemos de cor os perigos em que incorremos, conhecemos os riscos de tal voo, mas o bichinho da insatisfação corrói-nos e nada nos consegue deter.

 

Um dia voamos em direção ao astro rei, nada nos pode deter, surdos aos avisos de quem sabe mais do que nós, cegos perante a felicidade que já temos mas que não queremos valorizar. Voamos, voamos, asas desbragadas e lentamente o calor envolve-nos o corpo. Quando nos apercebemos, já é demasiado tarde, a cera derrete pingo a pingo, gota a gota, e nada poderá deter a nossa (auto)destruição.

 

Há quem morra logo ali, escaldado de forma imperiosa, há quem se escalde e inicie um lento processo de corrosão…as pontas das asas estão queimadas sem salvação possível, descemos devagarinho desde o céu até ao fosso. Nesta morte lenta somos torturados pelo arrependimento, só então passa diante os nossos olhos tudo aquilo que tínhamos e que está irremediavelmente perdido. Só neste doloroso trajeto compreendemos que já tínhamos o Sol na nossa vida, já eramos senhores de um amor que nos dava asas e, acima de tudo, já eramos completos e felizes.

 

Quando o nosso corpo se estilhaça no chão, nada sentimos. Já não estamos vivos, a morte da alma que foi acontecendo na descida foi de tal forma dolorosa, que já não deixa espaço para doer mais nada. À nossa volta ninguém entende o que fez aquele amor morrer, o que fez aquele sonho derreter, mas Ícaro sabe que foi a ambição de querer aquilo que só aos deuses maiores era permitido e não percebeu quão vulnerável era.

Acho-te piada

por aspalavrasnuncatedirei, em 13.10.15

 

sorriso.PNG

 

A Constança entrou na minha vida para não mais sair dela, foi completamente inesperada, não se fez anunciar, abriu de par em par as portadas da minha existência e arejou todos os recantos bafientos da minha vida vazia.

 

De início, não lhe dei muita confiança, não quis que percebesse que estava a começar a tomar conta dos meus pensamentos de forma persistente, não lhe quis mostrar a minha vulnerabilidade, mas era já nela que pensava ao acordar e era para ela que fugiam os meus pensamentos quando adormecia.

 

«- Acho-te piada.» Dizia eu para a irritar quando ela de olhar lânguido e voz cheia de mimo me perguntava se a amava. E os seus olhos baixavam tristes e desiludidos mediante a brincadeira da minha resposta. E lentamente… comecei a ficar preso nesse olhar…

 

Eu não sei se sucede o mesmo com outros casais, mas com Constança foi tudo mágico desde o primeiro dia. O nosso amor nasceu de uma noite quente de Primavera, alguém lá em cima conspirou muito a meu favor…Estávamos rodeados de gente e de repente detive-me no seu cabelo ao vento, havia algo de angelical na forma como prendia o cabelo atrás da orelha, havia algo de divino na forma como sorria. Por cima de nós uma lua gigante, daquelas que andam agora na moda, iluminava aquele que viria a ser o meu próximo destino, e foi quando a sua mão pequena, se perdeu na imensidão da minha, que soube que tinha encontrado o que toda a vida desejei.

 

Os dias sucederam-se numa descoberta voraz. Cada segundo era demasiado longo para estarmos afastados, fomo-nos despindo de quem eramos e vestimo-nos de “nós”. A nossa alma deixava-se encantar pelo outro e engrandecia a cada encontro. Cometemos a proeza de estar juntos longos anos, sempre com a novidade da descoberta, sempre com um pormenor de conquista, sempre com o desejo de fazer o outro feliz.

 

Não sei se a nossa felicidade incomodou os deuses do Olimpo, mas algures nessa estrada feita de nuvens, começamos a perdermo-nos um do outro. Olho para trás e não consigo perceber onde é que o ponteiro do relógio parou, onde é que o coração deixou de bater. Mas dava tudo para identificar esse momento para o reverter…

 

Pouco importa o que aconteceu depois, mas os nossos caminhos seguiram estradas diferentes. Desconheço como é feito o teu caminho: Será alcatroado? Espero que seja relvado porque tu mereces sentir a humidade fria do orvalho debaixo dos seus pés pequenos. Será com declives, acidentado? Desejo que não, de altos e baixos tens uma infância cheia e se houver relevo que seja sempre em sentido ascendente para te encaminhar ao céu. Será que vais acompanhada? Sozinha? De coração, desejo que não te faltem mãos amigas para te ajudar a levantar nos dias difíceis, não te faltem os ombros para chorar nas curvas mais apertadas, mas espero, do alto do meu orgulho, que não haja ninguém ao teu lado para entrelaçar os dedos e caminhar passo a passo…porque esse lugar é meu, conquistei-o por amor e direito. 

Cartas de Amor

por aspalavrasnuncatedirei, em 11.10.15

“Todas as cartas de amor são ridículas” dizia Fernando Pessoa na pele de Álvaro de Campos mas apesar da enorme admiração pelo hortónimo e pelo heterónimo, não podia discordar mais.

Numa era em que as tecnologias tomaram conta das nossas vidas e se tornaram o veículo da manifestação das nossas emoções, continuo a ser apologista, e uma séria defensora, das cartas de amor.

Que bom que é escolher um papel bonito, ir buscar a nossa melhor caneta, aquela que nos faz a letra mais bonita, e desenhar um laço que una o nosso coração àquela folha em branco. Custa começa, eu sei, é verdade, são tantos sentimentos que se atropelam, cada um deles a querer manifestar o seu carinho, o seu desejo, a sua paixão. São apressados, não fazem fila, não se organizam ordeiramente e a nossa mão, de repente, é impelida a escrever em êxtase tudo o que lhe vai na alma.

E sim, aqui até podemos ser um bocadinho “ridículos” mas ao amor tudo é permitido, não nos coibimos de usar palavras tolas, doces, diminutivos, metáforas, hipérboles e um sem número de recursos estilísticos que sejam uma expressão sintomática de tudo o que sentimos.

Depois assinamos, perdemos infindáveis minutos a escolher a expressão certa para colocar termo a tão importante missiva, não queremos ser lamechas, não queremos ser formais, queremos apenas que o destinatário daquelas palavras sinta, quão verdadeiro é, aquilo que escrevemos.

Fechamos a carta, seguramos o selo como se fosse de cristal e colamo-lo com jeitinho. Olhamos emocionadas para aquele pedaço de amor branco que vai voar dos nossos dedos. Depositamos-lhe um beijo na esperança que a acompanhe ao longo de todo o trajeto e que ainda esteja fresco no momento da receção.

Ao colocar a nossa carta no correio ficamos com um sorriso doce a imaginar o rosto daquele a quem escrevemos. Imaginamos a sua perplexidade ao abrir a sua caixa do correio, imaginamos o seu olhar iluminado ao ver a nossa letra, a sua admiração ao reconhecer-nos no remetente e a sua felicidade ao descobrir o que nos ia na alma.

Enviar uma carta de amor a quem amamos, pode ser uma forma antiquada de manifestar os nossos sentimentos, mas é sem dúvida uma forma bonita de marcar a diferença.

 

Music Box

por aspalavrasnuncatedirei, em 10.10.15

music box i.PNG

 Tenho um grande fascínio por caixas de música, há qualquer coisa nelas que encerra uma beleza divina. São uma metáfora da vida, da essência feminina, são o esplendor, em forma de música, de arte e da imagética feminina.

Quem pega na caixa deixa-se deslumbrar pelo seu mistério, pela sua forma macia e arredondada. Segura-a com cuidado com as duas mãos, sente-lhe o peso da madeira e não controla o desejo de saber o que vai encontrar lá dentro. Levanta-lhe a tampa com suavidade e docemente se extasia pelos primeiros acordes que flutuam à sua volta. E eis que, numa aparição de delicadeza, vulnerabilidade, subtileza, e encanto surge a pequena bailarina.

Ela é singela, delicada e os mais incautos consideram-na frágil, que néscios são… Esta menina, como qualquer mulher, vive a dicotomia entre o ser e o parecer. Esforça-se para estar sempre de vestido vaporoso e cuidado, de cabelo meticulosamente arranjado onde cada fio se encaixa num pequeno totó. A seda dos seus sapatos brilha a cada movimento e as suas fitas de seda estão encantadoramente enroladas nos seus magros tornozelos. A sua expressão é séria, mas muito doce, quem olha para ela sente a felicidade que emana ao dançar, sente o amor por estar ali connosco.

Mas a alma da bailarina, ninguém vê, está vedada aos insensíveis e só os olhos de quem verdadeiramente ama, consegue compreender. A sua alma sofre… castigam-na as dores da vida a dançar, doem-lhe os pés de suportar o seu corpo, amarguram-lhe os braços de tanto querer levitar, rasga-se a carne por não poder engordar, fraturam-se os ossos a cada movimento.

Todos os dias morre mais um bocadinho. O que a verdadeiramente mata é o esquecimento a que é votada. Quando a caixa de música é nova, há sempre alguém que diariamente a quer abrir, desfrutar da sua companhia, rejubilar com a sua magia. No entanto, o tempo vai passando e a pequena bailarina deixa de ter um lugar primordial no coração de quem a possui e que todos os dias se esquece dela, sem se aperceber do sofrimento que causa.

Um dia, a caixa de música deixará de tocar e a singela boneca jamais se movimentará. O motivo? As lágrimas que tanto chorou enquanto a caixa esteve fechada e que enferrujou todas as molas que a faziam movimentar. Tudo na vida tem um tempo certo: há um momento para abrir a caixa de música, outro para escutar a sua melodia e admirar quem dança lá dentro e finalmente, há um tempo paraa fechar e não mais abrir.

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