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aspalavrasnuncatedirei

Há palavras que nunca chegam ao destino...fazem uma longa e amarga travessia pela solidão dos sentidos e morrem na escrita destas crónicas.

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Há palavras que nunca chegam ao destino...fazem uma longa e amarga travessia pela solidão dos sentidos e morrem na escrita destas crónicas.

This is the last time

por aspalavrasnuncatedirei, em 22.02.15

« - This is the last time I'm asking you this, put my name on the top of your list. This is the last time I'm asking you why you break my heart in the blink of an eye (...) This is the last time you tell me I've got it wrong.

- This is the last time I say it's been you all along.»

 

As Time Goes By

por aspalavrasnuncatedirei, em 12.02.15

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Deito-me na cama sorrateiramente. Tento não fazer barulho para não te acordar, afinal a última coisa que quero é que saibas que são 3h45 da manhã, que já tomei um banho para tirar do corpo o cheiro a tabaco, a álcool, a perfume de outra mulher e a sexo. Fecho os olhos preparo-me para o descanso do guerreiro. Em flash passam à minha frente as imagens das últimas horas: Jantar de trabalho, conversas chatas, homens patéticos que têm a mania que sabem tudo, mulheres ainda mais patéticas mas que têm corpos com hormonas a fervilhar. Há já algumas semanas que cortejava a Inês, conheci-a por intermédio de um amigo comum. É bonita, fresca, enxuta, tem 30 anos acabadinhos de fazer mas uma fragilidade de quem não sabe muito bem o que quer da vida. Ainda acredita que o ex namorado vai voltar, ainda não percebeu que já passou à história, mas enquanto ele não volta e ela não se mentaliza disso, fica vulnerável a qualquer canção do bandido, bem cantada, e nessa arte, a minha melodia é exímia. Ela também gostou de mim logo na primeira troca de olhares. Claro que, segurar-lhe na mão e deslisar os meus dedos suavemente na pele dela para ver as horas no seu relógio, ou ainda tocar-lhe no lóbulo da orelha para lhe admirar os brincos, também ajudou. As mulheres são todas iguais, derretem-se com estas tretas. E eu tenho anos e anos de aplicações bem-sucedidas, com táticas infalíveis que sempre me levaram ao sucesso. 4H23m - Dormes serenamente, no teu rosto, a serenidade que reconheço. Afasto lentamente o lençol para te desvendar o corpo. És linda, continuas linda mesmo com o passar dos anos, mesmo depois dos nossos filhos terem nascido, mesmo depois de tanto tempo de vida em comum. Aproximo-me de ti para te sentir o calor. Deposito o meu rosto, onde a barba já pica, no teu ombro. Que mistério é esse que escondes em cada poro? Cheiras sempre tão bem, a tua pele é tão macia. Aproximo-me ainda mais, deixo que o meu corpo fique colado ao teu. O sono não vem mas vêm à minha memória os corpos das mulheres a quem me dei. As baixas, as altas, as morenas, as louras, as gordinhas, as esqueléticas, as tábuas-rasas, as avantajadas…O que eu gosto de um corpo feminino. Como me fascinam as suas curvas, as suas texturas, os seus odores, os seus gostos. Às vezes vejo-me como uma espécie de cientista, gosto de estudar o corpo humano, feminino obviamente, não vou publicar os resultados da minha pesquisa na Science, mas dá-me um gozo tremendo olhar para trás e lembrar-me do tudo o que já fiz, de tudo o que vivi. 5:03m - Ao meu lado respiras profundamente e, inconscientemente também, te aninhas em mim. Há qualquer coisa em ti que te faz diferente de todas as outras, mas ainda assim, não tem o poder de te tornar única. Não me interpretes mal, eu amo-te, tu sabes que sim. Foste a mulher que escolhi para casar, para ser mãe dos meus filhos, para envelhecer ao meu lado. Todos os dias quando coloco a aliança no dedo, faço-o com a convicção que te continuo a escolher: na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, todos os dias da nossa vida. Mas…e há sempre um mas…eu preciso de caçar, talvez seja um instinto primário ou primitivo do Homem, mas este desejo de conquista, de nos fazer caçar a carne que comemos, este jogo de gato e rato, esta brincadeira de predador e presa é algo que me alimenta de uma forma inexplicável. 6:11m - O meu amor é-te fiel. Por ti faria qualquer coisa, nunca te menti. Omitir não é o mesmo que mentir. Se tu soubesses de todas as mulheres que cortejei, seduzi e me envolvi ficarias devastada, jamais perdoarias uma traição. Ou melhor, até perdoarias porque está na tua essência de boa pessoa, mas jamais esquecerias. Não conseguirias viver com a imagem de uma outra mulher a ser tocada por mim, acariciada por mim, a boca dela na minha boca, o meu corpo dentro do seu. E eu não conseguiria viver com a tua transformação: os teus olhos perderiam o brilho sempre que eu surgisse, os teus braços ficariam cada vez mais flácidos sempre que me abraçasses, os teus beijos perderiam lentamente o mel, o teu corpo, esse meu santuário, fechar-se-ia para que eu não o profanasse. O teu amor…extinguir-se-ia. 6h56m – dentro de alguns minutos o despertador vai tocar. Tapo-me o melhor que posso, senti um arrepio só de pensar que te posso perder. Coloco o meu braço por cima de ti, para que logo ao acordares te sintas protegida, amada e para te relembrar que te pertenço, que o meu amor é teu. Beijo-te ternamente os olhos e prometo-me, outra vez, que nunca mais te volto a trair.

Carta de uma Mulher à Amante do Marido

por aspalavrasnuncatedirei, em 11.02.15

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Daria tudo para ver a tua cara ao encontrar este e-mail entre os vários que ele escreve para ti. Não me interpretes mal; não estou a escrever para te provocar.

Quero apenas ser a primeira a te dar uma notícia do teu interesse, e como sei que vives ligada à internet, acho que vou conseguir. A menos que ele já esteja aí e tenha estragado a minha surpresa. Ele disse-me que ia para um hotel qualquer, mas tu sabes tanto quanto eu (talvez até melhor) que não seria a primeira mentira que ele me conta. Garanto, porém, que será a última.

A notícia é justamente esta: acabo de colocar o meu marido porta a fora, com malas e tudo. Sem volta. De modo que vocês não precisam mais de fazer malabarismos para evitar que eu descubra o que já sei há quase um ano. Se eu fosse a ti (e, acredita, houve uma época em que ser tu era o que eu mais queria), começaria a me preocupar se ele demorar a aparecer. Mas vai aparecer, sim. Porque agora tu és tudo o que ele tem.

Pela primeira vez, ele vai bater à tua porta não por excesso de tesão, mas sim por falta de opção. E eu queria que tu soubesses disso. Passei o diabo por tua causa e não vou permitir que sintas o gostinho de imaginar que ganhaste. Não ganhaste, fui eu que o pus porta a fora e livrar-me de um traidor para mim é uma vitória. Mas no final das contas, sempre foi isso, não é? Uma competição entre nós as duas. O mais irónico é que o “prémio” nem é nada de mais, vale muito pouco.

Acredita que o desgraçado tentou pedir perdão, jurando que o caso de vocês não era nada sério. E olha que eu nem sequer lhe pedi explicações. Só mandei que saísse da minha vida. Devias ter visto o estado em que ele ficou quando chegou a casa hoje e encontrou as malas à porta. Nunca lhe tinha passado pela cabeça a possibilidade de que eu desconfiasse de algo. Menos ainda de ser dispensado. E daquela forma. Ficou tão desnorteado que me acusou de traição por tramar tudo pelas costas dele. O cínico faz sexo contigo e a traidora era eu!

Pela primeira vez depois deste tempo todo, tive vontade de rir. Lá estava o infiel, chocado com a descoberta de que eu sabia. É a prova de que sou muito mais competente do que ele na arte de disfarçar. Só eu sei o esforço que isso me custou.

Mas, lamentos à parte, foi um alívio colocar um ponto final na situação. Nunca mais vou olhar para o meu marido a imaginar se hoje é o dia em que ele vai abrir o jogo e acabar com o nosso casamento. Nunca mais vou ter a sensação de ser inadequada, de ser errada, nunca mais vou ter a sensação de não ser o suficiente para alguém. Nunca mais vou sentir o teu cheiro entranhado na pele e nas camisas dele.

É, foi o perfume que me alertou. Sempre o mesmo, sempre nos dias em que chegava a casa mais tarde, sempre nos mesmos dias da semana. Depois, a desconfiança me fez vasculhar o computador dele e encontrei as tuas mensagens.

Acabei por chegar à conclusão de que ele nos enganava. Às duas. Nunca pretendeu escolher. E porquê? Tinha o melhor das duas. Por ele, arrastaria a situação indefinidamente. Pior: se fosse pressionado, ficaria comigo. Mas gosto demais de mim mesma para aceitar uma coisa dessas. Foi por isso que o coloquei porta a fora. Por ironia, ele agora é o único que não tem escolha.

Quando ele bater aí, tu podes ou não abrir a porta que eu fechei. Não sei qual das opções me daria mais prazer. Enfim, o problema é teu…

Adeus pra ti também.

                                                                                   http://thesecret.tv.br/2015/02/carta-de-uma-mulher-amante-marido/

 

Will you be there?

por aspalavrasnuncatedirei, em 08.02.15

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O mar toca suavemente nos meus pés, num convite inglório que apela à minha coragem para me entregar a ele. Está frio, mas o frio da água representa pequenas cócegas comparado com o frio de alma que me acompanha nos últimos dias. Destapo lentamente o pescoço com a écharpe, deixo que um novo arrepio me percorra o corpo, pego nela e estendo-a na areia. Deixo-me cair, como cai um peso morto…a cada dia que passa o meu corpo está mais pesado, são quilos e quilos de tristeza, de mágoa, de lágrimas que teimam em não sair. As gaivotas vão-se aproximando «-Que tens tu pequena humana?» - pergunta uma. «Por que choras menina?» - pergunta outra. Procuro respostas na força das ondas e eis que surges tu. Tenho tantas perguntas a deambular na minha cabeça, frases perdidas, palavras soltas, sem nexo sem se conseguirem juntar numa simples oração. Havia algo mais que eu poderia ter feito? Podia ter dito outras palavras? Podia ter tido outras atitudes? Ter-te-ei dito que te amava vezes suficientes? Terei sabido deixar, com elegância, a porta aberta para que soubesses que não estavas preso e que regressar a casa, voltares aos meus braços, seria sempre uma escolha tua? Ou deveria ter-te fechado numa gaiola dourada e ter deitado fora a chave, na esperança vã que nunca sentisses vontade de voar? Fiz tudo o que havia para fazer, ou o Destino já tinha decidido, ainda antes da linha de partida, que a escolhida não seria eu? Quem está na meta à tua espera? Com quem sonhas? Quem é ela? Como é ela? Onde está a Vida que eu achei que partilharíamos? Onde estão os sonhos divididos entre a areia e o sal do mar, entre o cinema e o açúcar das pipocas, entre a viola e o poema, entre os lençóis e as almofadas? Será que sabes o que procuras? Nessa busca desenfreada pelo prazer, esse êxtase fugaz que pouco te deleita o corpo mas que muito satisfaz, e muito te alimenta o ego, ficas completamente saciado? Não te assalta o vazio de em outras curvas não veres os meus contornos? Não sentes o travo amargo de em outras bocas não provares o adocicado dos meus beijos, em outros olhos não veres o brilho que um dia trouxe um pouco de luz aos teus dias tão cinzentos, às tuas noites de penumbra? Que orgulho doentio é esse que transforma o teu corpo num colecionador de troféus? Arrefece… o frio é cada vez mais intenso, o vento dói-me na pele fria, o coração insiste em parar de bater. As gaivotas abandonaram-me, tiverem pena de nós, perceberam que pouco podiam fazer por mim, elas voam, são livres, respeitam todo o ecossistema e não entendem os homens, não compreendem como são tão racionais e mesmo assim, deitam tudo a perder. Ao longe uma mulher bonita vagueia pela praia e brinca com um cão. Será que um dia vais finalmente encontrar o que procuras? Como é essa mulher que adormece ao teu lado? Será que ela fecha os olhos e repousa no teu peito com a certeza que ao acordar ainda lá estás? Will you be there?

 

 

 

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