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aspalavrasnuncatedirei

Há palavras que nunca chegam ao destino...fazem uma longa e amarga travessia pela solidão dos sentidos e morrem na escrita destas crónicas.

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Há palavras que nunca chegam ao destino...fazem uma longa e amarga travessia pela solidão dos sentidos e morrem na escrita destas crónicas.

Segunda Oportunidade

por aspalavrasnuncatedirei, em 27.01.09

 

Imagem Retirada da Internet

Miguel e a Teresa reconciliaram-se. Esta era a notícia do dia que a Joana, o melhor meio de comunicação desde a portaria ao arquivo, se esforçava por dar a conhecer a todos os colegas do escritório. Baixo, muito baixinho, dizia-o entre dentes, não fossem os visados ouvir. A bombástica notícia apanhou desprevenidas todas aquelas pessoas que adoram estar a par da vida alheia. «-Como é que é possível?», «- Ela não tem vergonha nenhuma na cara», «-Ele é um grande banana», «-Só o fizeram por causa das miúdas» eram os mimos que se ouviam nos corredores. Todo aquele interesse mesquinho de opinar e participar no fórum da maledicência só se justifica pela pitada de sal que aquilo trazia às suas patéticas vidas. Mais tarde, mumificada na IC19, o Miguel e a Teresa passearam pelo meu pensamento, tão lentamente como o trânsito naquele fim de tarde. Conheceram-se na adolescência numa daquelas festas de garagem onde às escondidas se fumava SG Ventil, bebia Super Bock e se trocavam os primeiro beijos. Sobreviveram à distância imposta pela faculdade, ela no Porto, ele em Lisboa, casaram assim que terminaram o curso, arrastaram-se pelo escritório com os sinais de desgaste com nascimento das gémeas, lutaram lado a lado com as dívidas à banca que Miguel contraiu, mas não sobreviveram ao desfalecer da paixão, à presença da rotina. Os anos que se seguiram, assistiram à batalha campal do divórcio. Se este casal pertencesse ao Jet Set teriam feito correr rios de tinta nas páginas das revistas cor-de-rosa, mas não pertenciam, situavam-se apenas num universo, que é dito como normal, e a que cada um de nós está longe de dizer que jamais irá pertencer. Como amiga do casal dei comigo no meio dos desabafos e agressões. O objectivo era ver quem é que feria mais o outro, quem é que denegria mais a imagem do ex companheiro. Ela acusava-o de ser preguiçoso e de ter arruinado o património da família com os seus gostos de novo rico, ele retribuía o galhardete dizendo que ela estoirava o dinheiro em roupa e em clínicas de estética para minimizar os estragos que fazia à mesa; ela dizia que ele passava as noites no sofá ou na cama a ressonar, ele dizia que ela passava a noite a ver telenovelas e que chegava à cama sempre com dores de cabeça; ela censurava-o por ser egoísta e não lhe dar prazer, ele desprezava-a dizendo que era frígida; ela queria o Chalé de Andorra, a casa na Quinta do Lago e o descapotável, ele respondia que a tirou da miséria e que ia sair de casa com a roupa adquirida na feira de Carcavelos que trazia no dia em que a conheceu; ela queria a custódia das filhas e uma pensão milionária, ele disse que não tinha tempo para cuidar das gémeas e dava-lhe uma pensão irrisória. Quando finalmente declararam tréguas um ao outro ele passou a sair com todas as mulheres maduras que o fascinavam, ela fez uma ronda pelos sub 21 que encontrava nas saturday nigth fever. Afastaram-se e construíram novos caminhos para as suas vidas. Cinco anos passaram, as gémeas tornaram-se um pretexto para a aproximação. Havia sempre uma prova de natação ou um torneio de basquetebol e, primeiro com algum desconforto, depois com uma clara alegria, começaram a sentar-se lado a lado nas bancadas do clube desportivo onde gritavam e torciam pelas filhas. Pelo canto do olho, Miguel olhava Teresa e pensava que o divórcio só lhe fizera bem. Estava mais magra, mais bonita, vestia-se com maior elegância. Teresa sentia o olhar dele sobre o seu corpo e também lhe reconhecia os benefícios da separação: músculos mais firmes esculpidos pelas corridas matinais no parque da cidade, o cabelo mais curto e pincelado por uns laivos grisalhos, a roupa desportiva que lhe dava um ar menos formal. Miguel e Teresa… sorrio. Voltam aos meus ouvidos os mexericos do escritório nesta manhã. Ao contrário do que dizem, esta relação tem tudo para dar certo. Não é só pelo facto de reconhecerem, depois de tudo o que viveram, que ainda se amam, mas é o facto do que aprenderam longe um do outro e o que cresceram como pessoas, que lhes vai permitir construir uma relação nova. Ele aprendeu a trocar o jornal pela actividade física, a substituir a vaidade e o exibicionismo de um carro novo pela tranquilidade de um fim-de-semana a dois perdidos num SPA; ela deixou a televisão e foi esculpir o corpo no ginásio, tomou aspirinas quando tinha realmente dores de cabeça e entregou-se sem pudor ao prazer na cama com o marido. Mas o que me leva a acreditar novamente naqueles dois é o facto de se conhecerem muito bem. Miguel e Teresa reconhecem no outro, os seus valores, as suas qualidades, mas melhor que isso, conhecem-se do avesso, o lado lunar, o que de pior têm para oferecer. O ódio e o amor são sentimentos próximos, um casal que já se amou e que se odiou de seguida, tem fortes probabilidades de ser feliz, quando se voltar a amar.

 

Entre Mim e Eu

por aspalavrasnuncatedirei, em 19.01.09

 

 

Imagem Retirada da Internet

 

Entre mim e eu existia uma criança sonhadora, cheia de maternos afectos e mimos, simultaneamente abundante em ausências e saudades paternas. Dali cresceu a filha que sempre quis agradar, que nunca quis desiludir ninguém, que desejou sempre corresponder às expectativas, honrar os sacrifícios, e hoje há apenas a pessoa que necessita ser aceite e amada, tal como é. Entre mim e eu uma Cinderela de sapatos de salto alto, vestido elegante, pescoço perfumado, caracóis ao vento, e uma Gata Borralheira de pantufas de lã, camisola grosseira de malha, óculos graduados na ponta do nariz e rabo de cavalo a galope. Encontro algures neste invólucro que habito a professora inovadora, atenta às dificuldades e angústias, próxima dos sorrisos, crente que a escola se faz de pessoas e afectos, e a docente rigorosa com os deslizes, implacável com os erros, pouco permissiva com as faltas de educação e incrédula para com tantas reformas e remodelações. Entre mim e eu a esposa perfeita, de casa imaculada, roupa engomada, comida na mesa ao badalar do relógio, tudo isto acompanhado pelo sorriso, pelo beijo à entrada da porta, pela vontade de ser e fazer feliz, e a mulher exausta de ser tão exigente para com ela própria que recusa descansar, por achar que é sinal de fraqueza. Entre mim e eu vive uma a namorada sorridente, senhora do seu nariz, detentora única da sua liberdade, que adora momentos românticos, pequenas surpresas, viver as situações com paixão e a companheira que precisa estar sozinha, fechar-se no casulo para se sentir a ela própria. Entre mim e eu há uma mãe amorosa que se divide em atenções, multiplica em mimos, que se diverte com as brincadeiras, compreende as tristezas, e acima de tudo, dedicada às suas vidas. Mas há também uma progenitora exigente com comportamentos, austera com as birras e rígida com as atitudes. Entre mim e eu vive um ser muito feminino que gosta do que o espelho reflecte, dos centímetros a mais no andar de baixo, dos centímetros a menos no andar de cima, do nariz pequeno, das mãos e pés minúsculos e há um patinho feio, em guerra com a balança, de relações cortadas com doces e gorduras, de olhos esbugalhados perante os Michelin que se acumulam na barriga, as cordas que marcam os cantos do rosto, os fossos que se abrem debaixo dos olhos. Entre mim e eu... tantas certezas, tantas dúvidas, sei apenas que há uma mulher.

 


Essa Miuda - Jorge Palma

 

Lindo... lindo...lindo...

por aspalavrasnuncatedirei, em 14.01.09

Querido 2009

por aspalavrasnuncatedirei, em 05.01.09

Imagem Retirada da Internet

 

Bem-vindo sejas à minha vida. Tenho muito prazer em conhecer-te, uma alegria enorme em abrir-te as portas da minha existência de par em par. Sei que não vieste para me atormentar, para me magoar, ou para me fazer sofrer, com a mesma certeza que sei que não são os políticos, os partidos, ou os canais de televisão que vão determinar se vais ser protector ou adverso. Para te facilitar o trabalho vou mostrar-te o que vamos fazer em conjunto nestes 365 dias e no final do ano faremos o balanço e confirmaremos os prognósticos. Olho para ti e vejo muitos mimos, beijos, abraços, dentadinhas, cócegas, jogos e brincadeiras no mundo dos Pantufinhas. Confirmar-se-á que o meu amor por eles é eterno, acentuar-se-á a minha felicidade como mãe, partilharemos em harmonia o melhor daquilo que somos. 2009 é o ano do carro novo, aquele…o tal… o dos passeios à beira-mar, o das viagens especiais, o do transporte para a escola, o do disco sound nas manhãs ensonadas. Contigo, é chegada a altura daquelas obras especiais em casa, daquelas acções de melhoria que transformam o lar num verdadeiro ninho, o velho será substituído pelo novo, o supérfluo dará lugar ao essencial. Tu, meu querido 2009, és o marco que assinala a minha entrada para o quadro de uma escola, vou finalmente pertencer a um estabelecimento de ensino a que chamarei “meu” sem medo de sair uns meses depois, com a convicção que no ano seguinte vou dar continuidade aos projectos que iniciei, vou rever os sorrisos dos meus alunos e nunca mais vou dizer «Adeus». Vais ser o espelho da confraternização com as amigas especiais, daqueles serões de filmes alugados, de elencos hilariantes ou lacrimejantes. Substituiremos as pipocas doces por cajus salgados, as bebidas gaseificadas por infusões. Falaremos dos nossos sonhos e conquistas, daquilo que nos faz sorrir e chorar, despiremos a nossa alma sem medo de ficar nuas porque uma verdadeira amiga conhece bem a dimensão da nossa essência. Serás sinónimo de passeios familiares no calor da areia de S. Martinho do Porto, de caminhadas românticas no frio da neve da Serra Nevada, de chutos na bola no fofo relvado do Jardim das Rosas. Temperar-te-ei com o picante dos caracóis nas tardes de Verão, borrifar-te-ei com o vinagre das deliciosas saladas, refrescar-te-ei com o gelo das caipirinhas e adocicar-te-ei com quadradinhos de fino chocolate. E nos dias em que me deres a provar o sal das minhas lágrimas, agradecer-te-ei humildemente porque sei que há uma lição em cada gota que verto, uma aprendizagem que precisa ser feita, como forma de me tornar um ser humano melhor. 2009… és o ano da confirmação que as opções foram as correctas, que o que interessa não é o destino, mas sim a viagem e que o facto de  não fazer planos para a vida para não estragar os planos que a vida tem para mim, é a cada dia uma lição verdadeira de sabedoria.

 

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