Amor em Tempo de Bibe
Imagem Retirada da Internet
Vêm de longe as histórias de rixas, as anedotas, as brincadeiras, os amores e desamores entre sogras e noras. Nem sempre se dão bem, raramente são amigas, isto porque cada uma delas, de forma inocente ou dissimulada, lutam pelo primeiro lugar no pódio/coração do filho/namorado/marido. Devo confessar que foi com um sorriso rasgado que recebi a notícia que tinha um novo estatuto - o de sogra. Logo no primeiro dia de escola (já lá vai um ano) o meu filho chegou a casa com uma expressão marota e confessou-me que na sua turma havia uma colega “linda”. Os seus olhos brilhavam quando lhe descrevia o louro do cabelo, o despenteado dos caracóis, a brancura da pele que contrastava com umas rosetas vermelhas, uns olhos azuis de onde saíam faíscas, uma energia que nunca está quieta e nunca se cala. Dias mais tarde, a confirmação «-Mamã, mamã! Perguntei à Raquel se queria ser minha namorada e ela disse “-Sim!!!» E foi aí que me tornei oficialmente “sogra”. O tempo foi passando e não querendo dar provas de ser uma mãe metediça, de vez em quando perguntava como ia o namoro e o meu rebento respondia que ia bem, e que gostava muito, muito da Raquel. Um dia fui buscá-lo à escola e pude confirmar a descrição que me tinha sido feita daquela que era senhora do seu coração. Bem gira, a minha nora! Sem que eu estivesse à espera, veio a correr na minha direcção (correr mesmo, não é um sentido figurado), deu-me um doce abraço, acompanhado com um beijo besuntado (não comecem já a pensar que estou a implicar com a rapariga mas fiquei com a bochecha a colar). Terminaram as aulas, vieram as férias, iniciou-se um novo ano lectivo e o namoro lá vai de vento em popa. Esta semana a Professora comentou com um sorriso «-Este amor vai dar em casamento, eles não se largam. Passam os dias de mão dada, comem juntos, fazem trabalhos um com o outro e andam sempre aos beijos». “Sempre aos beijos!?!?…» pensei eu num misto de diversão e preocupação, e resolvi indagar o rapaz sobre a veracidade desta afirmação. Eu não sou antiquada, mas é assim que se namora hoje? Ao chegar a casa, não me consegui conter «-A tua Professora disse-me que andas sempre aos beijos à Raquel, é verdade? O rapaz iluminou-se «É pois! Quando vamos brincar na casinha das bonecas, quando ninguém está a ver, dou-lhe um beijinho... daqueles... na boca!» Sim, leram bem “casinha das bonecas”. Este é um namoro de bibe, que começou no recreio do infantário sob os olhos atentos e divertidos de uma Educadora. A Raquel é uma linda princesa de quatro anos, com um rosto angelical que morre de amores, e é correspondida, pelo Pantufinha mais novo, de quatro anos também. No recreio, entre bolas e jogos, baloiços e escorregas, entre carros e bonecas trocam juras de amor seladas com beijos. Hoje, quando o fui buscar encontrei a minha Comadre, que é como quem diz a sogra do meu filho, que é como quem diz, a mãe da Raquel e já estávamos a colocar os cintos de segurança nas nossas crianças quando o meu D. Juan de bibe me pediu para sair do carro porque queria despedir-se da sua amada. Consenti, compreesiva. E lá foi ele, com uma segurança que só o amor permite, com um sorriso que só quem está apaixonado entende, pendurou-se na janela aberta da outra viatura e… Chuac!!! beijo na boca da Raquel. A minha comadre soltou uma gargalhada, eu fiquei envergonhada com a ousadia. Quando o pequeno playboy se aproximou de mim disse-lhe baixinho «-Não podes dar beijos na boca à Raquel quando os pais estão com ela, eles podem não gostar e ficam zangados contigo. A resposta não se fez esperar... «Não faz mal, ao pé da mãe posso, do pai é que não… ele é polícia.»