Cheguei a casa com as tuas flores de papel presas no coração. (…) É assim que me sinto quando penso em ti, na tua alegria, generosidade e beleza, mesmo que o nosso amor seja feito de papel como estas flores. Não precisamos de o regar todos os dias, nem de o adubar, nem de lhe cortar os caules. Nem sequer precisamos de água: o nosso amor é quase imaterial, tu aí e eu aqui. (…) É um amor de papel, frágil e opaco, leve e branco, feito de ideias, de sonhos, de esperança e de muitas cores por pintar. Um amor sem planos nem projectos, quase adolescente, intenso, puro e perfeito. Que não precisa de provas nem de palavras.(…) O nosso amor é de papel como as flores que me deste, e no papel há-de ficar, para sempre escrito nas minhas palavras (…) Amar é como plantar uma semente e tu já plantaste a tua no meu coração.
«Há palavras que nos beijam/Como se tivessem boca» disse sabiamente Alexandre O’ Neil. Como professora tenho uma relação estreita com as palavras, gosto de as saborear, usá-las com discernimento e sapiência. Gosto da musicalidade e do significado de vocábulos como «pantufinhas», «fantástico», «ternura» «desejo», «elegante», «sedutor», «sussurrar», «apaixonado», «magia», «mãe» «anjo», «puro», «singelo», «mar», «carinho». Não suporto palavrões, ferem-me os ouvidos, são de mau tom e de mau gosto. Não gosto de «bué» (que raio de moda esta, e o pior, é que veio para ficar), nem de estrangeirismos, a nossa língua é tão vasta e tão rica, temos inúmeros significados para cada um dos termos, por alma de quem é que importamos expressões oriundas de outros países? Não gosto de «ódio», «raiva», «ciúmes», «inveja», «ordinário», «mesquinho», «dependência», «política», «morte»… enfim a lista é interminável. Mas as palavras que mais me custam ouvir são «-Mamã, quando é que vens para casa brincar connosco? Temos Saudades». Tenho trabalhado tanto… aulas de dia, aulas de noite, preparação das mesmas, reuniões, formações, preparação da apresentação do projecto final do curso de Educação e Formação de Adultos, explicações, duas horas e meia de viagens, a casa, os miúdos, eu… (eu??? Qual eu???). Digo muitas vezes, meio a sério, meio a brincar, que se sobreviver a este ano lectivo, com todas as implicações pessoais e profissionais que o envolveram, sobrevivo a tudo e que nada mais me deitará abaixo. E eu sei que sobrevivo, «Aquilo que não nos mata… deixa-nos mais fortes».