Às vezes, é preciso agarrar o touro pelos cornos e destruir as quimeras que nos impedem de enterrar a relação. Nestes casos a estratégia mais aconselhável é passar da angústia da espera, do “oxalá fosse possível” para o sofrimento realista da sã resignação do “não há nada a fazer”. Mas a verdadeira problemática surge quando o sexo se converte, ilusoriamente, na prova rainha de que o amor está vivo. Continuar a fazer amor com a pessoa que amamos, mas que não nos corresponde, é um disparate. Cada encontro clandestino é a confirmação de um “sim” com sabor a “não” e uma afronta para a auto-estima. A esperança sentida na carne. Não esqueçamos que ser alvo de desejo não implica sê-lo de amor. Em suma: desejo não é amor.
Esta crónica de Margarida Rebelo Pinto, que vos transcrevo seguidamente, traduz, na perfeição, aquilo que senti quando o Universo me presenteou com a dádiva da maternidade. Como adoro falar por metáforas, e nunca ninguém me entende, achei que só a Margarida soube exprimir, palavra a palavra, ideia a ideia tudo aquilo que vivenciei, e ao terminar a leitura desta crónica achei que tinha sido escrita direitinha para mim. Só quem é Mãe entende esta linguagem metafórica, só quem é Mãe percebe a dor de amar um filho, só quem é Mãe sabe que todos os sacrifícios valerão a pena, porque não são sacrifícios, são dádivas de amor. E quando o vento Norte chegar e levar os meus filhos para o Voo da Vida, espero que o façam com asas de Condor, sabendo à partida que o meu colo estará disponível para eles, que os meus braços serão sempre um porto seguro e que o meu amor é eterno... Mas se o vento os levar para longe do meu regaço também ficarei feliz, é sinal que o voo lhes corre de feição e não precisam de beber em mim a energia para continuar a voar. No entanto, o Pedro e o João são, e serão sempre, o vento sobre as minhas asas e são eles que me fazem voar, mesmo nas condições mais difíceis. Por tudo isto escolhi "Wind Beneath My Wings" de Bette Midler, uma música lindíssima, para musicar este post. Deixo aqui um beijo especial para quem é mãe... em especial para a minha.
Imagem Retirada da Internet
«Primeiro ouvi-lhe o som, tão doce e perfeito que nenhuma onomatopeia pode exprimir. Um murmurar suave e carente, entrecortado e sem ritmo que a pouco se transformou em choro de fúria e contestação. À minha volta os mágicos e as fadas circulavam forrados de amarelo com toucas e máscaras, luvas e tudo, numa sinfonia de gestos e palavras. E eu a ouvir tudo. Mesmo ao meu lado, de mão dada comigo estava a minha fada preferida que me explicava tintim por tintim o que se estava a passar. Foi então que o ouvi, nesse choro doce e quase imperceptível.
As lágrimas começaram a escorrer-me pelas fontes abaixo até me entupirem os ouvidos, as melhores e mais deliciosas lágrimas que alguma vez eu sentira. O meu coração duplicou de tamanho, vi o futuro num instante e pensei: isto não pode ser verdade, é impossível sentir tanta paz, tanta serenidade. De repente eu já não tinha ossos nem cartilagem, era toda feita de mel. Do peito escorria-me o amor, a cabeça fervilhava de ideias, a alma consumia-se na mais deliciosa das paixões.
Foi então que o vi. Besuntado em óleos celestiais que só o organismo conhece e fabrica, para o proteger do mundo. A cabeça redonda, os olhos colados e a boca em acção, a chorar.
Olhei-o de perto. Pousaram-no sobre o meu peito e ele de imediato sossegou. Depois levaram-no e eu fiquei mais acompanhada do que nunca com a imagem dele, que enchia os meus olhos, o meu coração e a minha nova alma de mãe. Senti-me abençoada. A sala de operações parecia o céu, cheia de anjos mascarados e fadas disfarçadas.
Finalmente, depois de tantos meses de enjoos, cansaço e peso ele tinha chegado. Uma pessoa inteirinha feita de nós. Abanei a cabeça com pena de mim mesma por me ter consumido em problemas que afinal não tinham a menor importância. O fundamental estava ali. Ao meu peito. A beber o meu leite. A alimentar a minha vida.
Há uma nova atmosfera aqui. Já não se respira ar, só amor. E quando ele acorda e abre os olhos à procura da sombra que eu ainda sou, conto-lhe histórias que não conheço, porque agora eu também já não me conheço, sou mais, muito mais do que fui. Sou Mãe. E não há nada no mundo melhor. Só ser Pai»