É uma palavra bonita, mágoa. Sabe a lágrimas silenciosas, a noites de insónia, a manhãs de Domingo solitárias e sem sentido. Está para lá da tristeza, da saudade, do desejo de lutar pelo que já se perdeu, da raiva de não ter o que mais se queria, da pena de ter deixado fugir um grande amor, por ser demasiado grande. Primeiro grita-se, barafusta-se, soluça-se em catadupas. Depois, é o pós-guerra, a rendição, a entrega das armas e as sentenças de um tribunal marcial interior, em que os juízes são a vida, e o réu, o que fizermos dela. Limpam-se os destroços. Enterram-se os mortos, tratam-se dos feridos, que são as nossas feridas, feitas de saudades, de desencontros, palavras infelizes e frases insensatas, medos, frustrações e tudo o que não dissemos. A mágoa chega então, quando o cansaço já não nos deixa sentir mais nada. É silenciosa e matreira, instala-se sem darmos por ela, aloja-se no coração. Mas o mundo nunca pára. Nada pára. A vida foge, os dias atropelam-se, é preciso continuar a vivê-los, mesmo com dor. Pelo menos a mágoa magoa, mas faz-nos sentir vivos.
Nunca saí do ninho, nunca as minhas asas se aventuraram na plenitude azul do céu. Tenho medo. Aqui sinto o calor protector das palhas quentinhas, e no céu, o Vento Nortepode arrastar-me para um trajecto desconhecido. Por isso escondo-me. Aproximas-te com asas de falcão e dizes que para deixar de ser uma larva, e me transformar numa linda borboleta, tenho que fazer o baptismo de voo. Tenho que acreditar que sou capaz, tenho que abrir as asas e voar… Confio na tua voz segura e, timidamente estico as minhas asas multicores. Ao meu ouvido sussurras “- Vai, não tenhas medo. Estarei sempre aqui para te guiar.” Fecho os olhos e deixo-me ir… Lentamente o vento, que outrora me angustiava, me vem beijar o corpo franzino e me sustém no ar. Sinto-me tão pequena perante a dimensão do Universo, mas tão feliz por finalmente fazer parte dele.
Toma um sorriso, oferece-o a quem nunca o teve. Toma um raio de sol, fá-lo voar além, onde reina a noite. Descobre uma fonte, faz banhar a quem vive no barro. Toma uma lágrima, põe-a no rosto de quem nunca chorou. Toma a coragem, põe-a no ânimo de quem não sabe lutar. Descobre a vida, narra-a a quem não sabe entendê-la. Toma a esperança e vive na sua luz. Toma a bondade e dá-a a quem não sabe dar. Descobre o amor e fá-lo conhecer ao mundo. Mahatma Gandhi