Nunca me Esqueci de Ti
por aspalavrasnuncatedirei, em 01.03.10
A porta fecha, a chave desliza pela ignição e de imediato o Rui Veloso senta-se no banco do lado a dar voz ao magnífico poema de Carlos T, Nunca Me Esqueci de Ti. O seu pensamento voa pelos acordes da melodia… Houve um tempo em que sabia de cor todos os seus movimentos, as cores que ela vestia, o perfume que usava, os livros que lhe adormeciam na cabeceira. Hoje desconhece as estradas por onde caminha, os terrenos que explora, os socalcos em que tropeça, as areias movediças em que se embrenha, a relva macia que lhe faz cócegas nos pés. Onde a levam os seus passos? Que outros passos caminham ao seu encontro para a receber? A vida é feita de isto mesmo, não são estradas planas, alcatroados, lisas que se desenham com traço fino de pincel, com mesclas de cor de felicidade. A vida faz-se de cruzamentos sombrios, com cores escuras e misteriosas. Nunca sabemos onde nos levam os atalhos e caímos na ilusão constante que aquele é o caminho mais perto. Ainda não chegámos a meio e já nos assalta o desejo de voltar atrás, mas o caminho inverso é proibido, é próprio dos fracos e daqueles que se recusam a aceitar um erro e crescer com ele, por isso, enchemos o peito de ar e avançamos, a medo, e com o desejo que melhores caminhos virão. Quando estes chegam, abrimos as janelas da alma de par em par para que o ar viciado nos abandone e inundamos os pulmões de ar novo, vida nova e continuamos a andar. Olha à sua volta, observa a estrada por onde desliza, sem trambolhões, sem escorregadelas, sem altos nem baixos. Há muito que a vida desliza suavemente, aprendeu a aceitar os pingos de chuva que lhe tocam o rosto com a mesma sabedoria com que se deixa tocar pelos raios de sol.