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Há palavras que nunca chegam ao destino...fazem uma longa e amarga travessia pela solidão dos sentidos e morrem na escrita destas crónicas.

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Há palavras que nunca chegam ao destino...fazem uma longa e amarga travessia pela solidão dos sentidos e morrem na escrita destas crónicas.

Lágrimas de Marta

por aspalavrasnuncatedirei, em 30.08.09

 

 

Imagem Retirada da Internet

 

«-O tempo passa e não consigo aceitar.» diz Marta com um fio de prata a deslizar-lhe pelo rosto. Já passaram dois anos desde que assinou os papéis do divórcio, mas para o seu coração, que não conhece relógios nem estações, parece que foi ontem. Nelson foi o primeiro namorado, com ele idealizou viver a vida que só é possível nos contos de fadas. Casou, e rapidamente percebeu que a sua existência teria muito mais de Gata Borralheira do que propriamente de Cinderela e com o passar dos anos o seu olhar perdeu completamente o brilho. Os conflitos aumentaram, as discussões generalizaram-se e um dia, de comum acordo, decidiram que a felicidade de cada um se fazia em estradas diferentes. Durante muito tempo Marta sentiu-se tranquila, achando que tinha tomado a decisão certa. Mas o seu mundo voltou ruiu quando o ex-marido decidiu refazer a sua vida e voltou a casar. Chorou com o orgulho ferido no dia do seu casamento, sofre compulsivamente sempre que a filha vai passar os fins-de-semana com o pai, sangra da alma quando ela volta feliz cheia de novidades sobre o pai e a nova mulher dele. Neste final de Verão a pequena Ana tem estado de férias com a nova família e Marta chora ao telefone, diz à filha que a vida sem ela não tem graça e, sem se dar conta disso, coloca nos ombros de uma criança de 6 anos o peso de saber que a sua alegria origina a tristeza da mãe. «-Estás a ser infantil, mesquinha e egoísta» digo-lhe com frieza para ver se a desperto do sonambulismo em que se encontra. Não responde, mas conheço-a para perceber que “Quem cala consente”. Marta sabe que a nossa amizade é forte o suficiente para me deixar à vontade para lhe dizer não aquilo que gostaria de ouvir, mas sim, aquilo que realmente tem de escutar. «-Ainda o amas?» pergunto no intuito de perceber o que vai na sua cabeça, «-Não sei, só sei que ele está feliz e eu não estou, só sei que não encontro ninguém de jeito e ele encontrou, só sei que a minha filha adora a mulher do pai e tenho medo de a perder…» E as lamentações não têm fim. Oiço a sua voz a baixar o volume pois o meu pensamento solta-se e penso que realmente as mulheres são estranhas, são exigentes, querem sempre aquilo que não têm, sonham com o impossível e são difíceis de contentar. Dou-lhe um abraço… terno, apertado e tento aliviar o fardo que por auto-determinação carrega. Recordo-lhe que a decisão de se divorciar partiu dela, que nenhuma mulher irá ocupar no coração da filha, o lugar que ela ocupa e que provavelmente o ex-marido ainda nutrirá algum carinho por ela. Mas friamente digo-lhe que está a fazer mal ao marido invejando a sua felicidade, faz mal à filha porque a obriga a sentir-se culpada pela alegria que tem e, principalmente, faz mal a ela própria porque não aceita que avida é feita de mudanças, porque ainda acredita que para ser feliz precisa de um homem ao seu lado, porque concentra toda a sua energia nas recordações do passado, porque ainda não percebeu que a felicidade é feita de pequenos momentos especiais, e não é um estado perene, e que no dia em que se sinta bem com ela própria e recupere o brilho dos seus olhos, tudo na sua vida fluirá de uma forma muito diferente.

 

5 comentários

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    De aspalavrasnuncatedirei a 02.09.2009 às 16:29

    Ahahahahahahahahah
    Olá chefe :)

    Obrigada pelas palavras elogiosas. Eu entendo as mulheres, e conheço bem os seus aspectos positivos e negativos,e estes, é preciso assumi-los.
    O que eu não entendo são os homens

    Beijinhos, volta sempre.
  • Sem imagem de perfil

    De Rui Duarte a 02.09.2009 às 18:57

    Sandra:

    Os homens são de uma transparência confrangedora. Não têm enigmas por desvendar. São umas eternas crianças que procuram na mulher uma outra mãe. É, porém, necessário que ela (a mulher) lhes saiba dar os brinquedos necessários. Caso o saiba fazer, os homens são as criaturas mais previsíveis que alguma vez poderás vir a conhecer.

    É tão linear que chega a ser desconcertante: comida, cerveja (ou tinto, que é mais do teu gosto), futebol e... aquilo em que estás a pensar... em abundância de preferência.

    O que é que não entendes, afinal?

    Beijinhos!

    Rui Duarte
  • Imagem de perfil

    De aspalavrasnuncatedirei a 02.09.2009 às 22:00

    Os homens são transparentes?!? Hummmm, não sei se concordo...

    Estou perfeitamente de acordo na questão das eternas crianças». Ora as mulheres não querem que os homens (os "seus" homens) sejam crianças, porque filhos só queremos realmente aqueles que geramos. Nós queremos um homem, que seja Homem!

    Quanto aos brinquedos... bem... como dizê-lo??? As mulheres não são lá muito adeptas do desporto rei, quanto ao vinho ou cerveja, apenas q.b. e quanto àquilo em «que eu estou a pensar» como é que os homens podem querer uma mulher feliz ao seu lado se passam a vida a ver futebol, de copo na mão e no final da noite... ainda as querem lindas e deslumbrantes para "brincar" com elas e se divertirem com "brinquedos"... em "abundância"?!?!

    Vocês são tão transparentes como o vidro de um copo que já foi demasiadas vezes à máquina de lavar...sem abrilhantador

    Beijinhos Rui, votos de um excelente ano lectivo.
  • Sem imagem de perfil

    De Rui Duarte a 03.09.2009 às 09:29

    Querida Sandra:

    Desejo-te também um bom ano lectivo. Onde é que ficaste colocada? Espero que não tenhas ficado muito longe de casa.

    Voltando ao ataque: apanhaste-me desprevenido com esta questão do copo que foi demasiadas vezes à máquina de lavar... e sem abrilhantador. Claro que eu me incluo nessa categoria, até pelo tempo que já vai passando - outros, mais brutais, chamar-lhe-iam idade -, por isso fiquei um pouco baralhado e demorei mais do que o previsível a reagir.

    É verdade que, com a idade, ficamos um pouco baços e com certos riscos que abrilhantador algum eliminará. Por isso, é também verdade, perdemos a transparência, mas ganhamos uma certa "patine", a que vocês costumam chamar "charme", e que é diferente da sensualidade. Esta alimenta-se, como o nome indica, das sensações, daí que derive do apelo do corpo; aquele tem a ver com os sentimentos, com a parte psicológica, e vai-se intensificando à medida que o corpo vai acusando os efeitos da gravidade.

    Com a idade, perde-se a transparência, ou seja, a lucidez! (Ganha-se a experiência, o que, no campo do amor, nem sempre é uma mais-valia.) Podemos, por isso, perder o interesse no futebol, no vinho, na comida..., mas nunca nas mulheres, as tais que "são estranhas, são exigentes, querem sempre aquilo que não têm, sonham com o impossível e são difíceis de contentar"!!! Esta, sim, é a prova provada da nossa eterna infantilidade.

    Rui Duarte
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