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aspalavrasnuncatedirei

Há palavras que nunca chegam ao destino...fazem uma longa e amarga travessia pela solidão dos sentidos e morrem na escrita destas crónicas.

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Há palavras que nunca chegam ao destino...fazem uma longa e amarga travessia pela solidão dos sentidos e morrem na escrita destas crónicas.

Serenata

por aspalavrasnuncatedirei, em 15.02.09

Miscelânea Seresteira

Imagem Retirada da Internet

 

Dormia serenamente quando doces acordes entraram no seu quarto naquela madrugada de Maio. Devagarinho os seus sentidos começaram a despertar para o trinar das guitarras, para o afinado das vozes. Entre elas destacava-se a de alguém que de coração aberto e alma ao vento cantava Donzela que Sempre Amarei. Sob o testemunho de um manto estrelado, algures debaixo de uma varanda antiga na António José d’Almeida reconheceu incrédula um Trovador acompanhado pelos fiéis súbditos da Tuna de Medicina. Ele elevou o rosto e percebeu que atrás da cortina se escondia um vulto cujas formas a faziam adivinhar. Na mesma rua, uma pincelada aqui, outra pincelada ali, acendiam-se as luzes das casas, onde os curiosos faziam questão de partilhar o momento e testemunhar aquela prova de amor. A música cessou, vestiu o robe, roubou uma rosa, e desceu descalça as escadas com o coração descompassado e as lágrimas nos olhos. Abriu a porta e à sua frente, tão branco como a luz da lua que os espreitava, com a voz embargada o Trovador balbuciou «- Não queria que saísses de Coimbra sem saberes que te amo…». A brisa incauta acariciou os anéis dos seus caracóis louros, brincou com os rasgões da capa e batina do estudante e gravou para sempre nas suas memórias a magia daquele momento. Os anos passaram… muitos anos passaram. «-Que é feito do Trovador e da Musa que o inspirou?» - perguntam os leitores intrigados. Seguiu cada um a sua vida… terminaram o curso, seguiram uma bifurcação diferente em Celas, arranjaram um emprego que mantêm, namoraram, casaram, tiveram filhos. Nunca mais se viram, nunca viveram este amor nem tiveram necessidade disso. Guardaram um do outro a doçura das paixões platónicas, a magia de uma história de amor por viver, o doce mistério do “O que é que teria acontecido se…”. Em madrugadas tranquilas, no terraço de um hospital qualquer, ele acende um cigarro, olha nos olhos da Lua e volta a sentir-se um adolescente. Fecha os olhos e ainda vê os seus caracóis espelhados nas estrelas acompanhado pelo seu lindo sorriso de menina-mulher. Ela, quando abre o baú das recordações, deixa-se invadir pela melodia daquela serenata e guarda com ternura o brilho dos olhos negros do Trovador e a sua voz quente e rouca. Guardou-o no seu coração, na mesma prateleira onde arrumou os Príncipes Encantados que idealizou na infância porque as quimeras são mesmo assim, só são especiais porque são irrealizáveis, só são perfeitas porque nunca se concretizam, só dão prazer porque não são reais.

 

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