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aspalavrasnuncatedirei

Há palavras que nunca chegam ao destino...fazem uma longa e amarga travessia pela solidão dos sentidos e morrem na escrita destas crónicas.

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Há palavras que nunca chegam ao destino...fazem uma longa e amarga travessia pela solidão dos sentidos e morrem na escrita destas crónicas.

Cabelo de Algodão Doce

por aspalavrasnuncatedirei, em 08.07.24

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Aguardo junto da estação de comboios pelos meus filhos que regressam da faculdade para um fim de semana de mimo. Observo o cenário à minha volta, a rua está repleta de pais e/ou mães saudosos que aguardam, como eu, pelos seus universitários. Em cada carro há uma pessoa entretida com o seu telefone enquanto esperam, anestesiados pelas realidades pseudo-felizes, daqueles que seguem nas redes sociais. E eis que a minha atenção se prende numa idosa, movendo-se lentamente na minha direção. Cada passo é calculado, possivelmente pelo peso dos anos que carrega ou pelo receio de alguma queda. Tem um ar ternurento, que só as avós possuem e sinto-me tentada a continuar a observá-la. O seu cabelo é de algodão doce, leve, escasso, suave, diferente na cor, branquinho. A sua pele é da mesma cor, marcada pelas rugas que contam histórias da amarguras e momentos felizes que viveu. Os olhos são de um azul-pálido, desbotado, cuja intensidade e brilho também se perdeu com o tempo. Traz um vestido cinzento, de luto longínquo pelo seu companheiro de uma vida, mas sobra-lhe tecido, onde outrora o seu corpo forte o preencheu. Do ombro pende a alça de uma malinha preta, antiga que já fora coquete. Consigo adivinhar o que está lá dentro: a carteira com algumas moedas para ir ao pão e que ao ser aberta revela o retrato do marido, talvez dos filhos e dos netos, as chaves de casa, um lenço de pano antigo onde bordou, a ponto de cruz, as suas iniciais, quando era nova. Vencida pelo cansaço de um caminho que percorre cada vez com mais dificuldade, vi-a sentar-se no banco de jardim perto do meu carro e por momentos os seus olhos cruzaram-se com os meus. É tão bonita…emana de si uma enorme serenidade, uma paz que só se encontra naquele patamar da vida, próprio de quem já nada espera ou tem de encontrar. Desviou o seu olhar do meu para o entregar ao relógio de pulso. (Trouxe-me de volta à minha realidade, são 18h15 e o comboio deve estar a chegar.) O que pensou na informação que os ponteiros lhe deram? Estaria atrasada? Adiantada? Será que espera, como eu, alguém, ou só espera que o tempo chegue derradeiro? Desvia novamente o seu rosto, desta vez vejo-a olhar o horizonte, numa postura de indiferença a tudo o que a rodeia, sem permitir que o barulho da rua, das pessoas a falar a incomodem. Está absorta, perdida em memórias, tudo agora é uma recordação para quem conta mais dias para trás, do que para a frente. Com que lentes olha para esses dias? Terá certamente lembranças repetidas, aquelas que assaltam sem se dar conta. O dia do casamento, do nascimento dos filhos, o aparecimento dos netos, a mesa cheia de saberes e sabores, a toalha imaculadamente branca dos Natais, os pingos de vinho teimosos que a coloriam. Respira fundo. Talvez a saudade lhe tenha apertado o peito e precise de absorver o ar para não se perder no mar de emoções. E lentamente, em câmara lenta surge um sorriso iluminado no seu rosto, não sei para onde olha, pois, uma multidão apeou-se do comboio e parece que vem toda na nossa direção, mas há um rosto que lhe é familiar e que a faz sorrir. Pouco depois chega um rapaz, alto, magro, de braços abertos como quem quer agarrar o mundo (e agarrou). Pegou na senhora ao colo e rodopiou num abraço que a fazia soltar gargalhadas nervosas e felizes. Sinto-me emocionada e o meu aperto no peito é interrompido pelos meus filhos que acabam de entrar no carro. Depois da avalanche de beijos e abraços apertados sigo o meu caminho distraída, o meu pensamento ficou na idosa da estação e no seu neto. Olho para o espelho retrovisor e encho-me de amor pelos meus rapazes, pergunto-me se um dia também me darão um neto que me pegue ao colo e me faça levitar no seu amor.

Vislumbres de Nós...

por aspalavrasnuncatedirei, em 30.07.22

A Vida é feita dos vislumbres de todos os momentos e pessoas que nos habitam.
Glimpse of Us...

 

Heartbeats...

por aspalavrasnuncatedirei, em 21.12.18

 

Há quem não goste de dezembro...

por aspalavrasnuncatedirei, em 09.12.18

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… Há quem não goste de dezembro... pessoas que por uma razão ou outra não se deixam tocar pela magia deste mês, que têm uma carapaça tão dolorida e tão dura que nada nem ninguém a consegue amolecer ou quebrar. Muitos são os que não se deixam embalar pelos cânticos natalícios porque aos seus ouvidos não chegam os doces acordes daqueles que amam e só a melodia do silêncio lhes atravessa o coração. Há quem não consiga sentir felicidade quando as luzes da árvore de Natal se acendem porque há muito que o brilho da alegria se extinguiu dentro delas. Há aqueles que não sentem qualquer prazer na doçura das rabanadas ou bolo rei, simplesmente porque a fome é um lugar comum todos os dias. Tantos avós por aí que não têm uma mesa farta à espera dos filhos e dos netos, avós que não precisam ter trabalho a rechear perus e fritar azevias e avôs que não precisam perder tempo a escolher os vinhos, simplesmente porque a vida se encarregou de levar os seus herdeiros para longe e é noutras casas, com outras pessoas que se sentam à mesa. Tantos e tantos são aqueles que não têm nenhum presente porque a vida se encarregou de lhes embrulhar os dias de tal forma, que uma fita estranguladora os ata com um laço. Quantos pais vivem na metade esta quadra? A parte que lhes coube na partilha legal de um casamento que se foi e a quem um juiz decretou por sentença régia que todos os anos só teriam direito a meio Natal? E os filhos? Esses sofrem porque ilusoriamente os adultos acham que ganharam a celebração a dobrar... Sim, há quem não goste de dezembro...porque o fio do fim dos dias se encarregou de levar quem tanto se ama, nos privou do seu lugar à mesa, do nome no embrulho, do abraço apertado, do sorriso carinhoso e que sem isso, não é possível celebrar. Há quem não goste de Dezembro...

Do You Fell a Litlle Broken?

por aspalavrasnuncatedirei, em 01.11.18

 

Sem Ti...

por aspalavrasnuncatedirei, em 29.09.18

Olhaste para mim e deste-me a mão e sem dizeres nada, fiquei sem palavras...Tiraste-me o chão. Digo-te adeus, queria ficar...e a cada partida, vou de asa ferida que quer pousar. Sem ti a chuva é forte na janela do meu quarto. Sem ti o vento norte anda louco por aí. Sem ti o mar se agita entre a terra e o céu. Sem ti sou metade Sem ti... não sou eu. Conheces-me bem, melhor que ninguém... Agarro um sorriso que levo comigo quando regressar. Quero-te abraçar e ficar assim esquecida de tudo, esquecida do mundo, esquecida de mim. Sem ti a chuva é forte na janela do meu quarto. Sem ti o vento norte anda louco por aí. Sem ti o mar se agita entre a terra e o céu. Sem ti sou metade Sem ti... não sou eu. Sem ti a noite é escura numa imensa solidão. Sem ti vou insegura como quem perdeu o chão. Contigo sou mais forte se tens o melhor de mim. Eu só sou eu contigo aqui... Eu só sou eu contigo aqui! (Mariza)

 

A Case of You...

por aspalavrasnuncatedirei, em 22.04.18

 

Simply... Falling...

por aspalavrasnuncatedirei, em 22.11.17

 

I am a fool...

por aspalavrasnuncatedirei, em 26.07.17

Pequenas Coisas...

por aspalavrasnuncatedirei, em 23.02.17

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