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Há palavras que nunca chegam ao destino...fazem uma longa e amarga travessia pela solidão dos sentidos e morrem na escrita destas crónicas.

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Há palavras que nunca chegam ao destino...fazem uma longa e amarga travessia pela solidão dos sentidos e morrem na escrita destas crónicas.

Morte Lenta

por aspalavrasnuncatedirei, em 02.06.07

 

Imagem Retirada da Internet

  

A casa onde nasci, brinquei, cresci durante 25 anos, hoje foi fechada. Fechou-se a porta à chave, trancaram-se as janelas e adeus… até nunca mais. Nunca aquela casa me pareceu tão grande, nunca me pareceu tão vazia. Sentei-me no chão frio. A primeira recordação que me assaltou remonta aos meus três anos, ainda me lembro dos gritos dos meus pais naquela noite em que se separaram. Seguiram-se anos de crescimento feliz, mas apenas com a minha mãe. Não esqueci a solidão dos Natais, nem os dias de aniversário, pendurada na janela à espera que o meu pai se lembrasse que um dia, naquele dia, lhe nascera uma filha. Lembro-me dos primeiros trabalhos de casa, de aprender a fazer sopa, de namorar horas ao telefone, de passar tardes infinitas na varanda com a Dulce. Saí para a faculdade, regressando apenas aos fins-de-semana, regressei então, 4 anos depois, e aquela continuava a ser a minha casa, o melhor lugar do mundo. Saí definitivamente quando casei. Vestida de branco, de "véu e grinalda", bonita como provavelmente nunca mais voltei a ser, cheia de sonhos, cheia de expectativas. Durante 7 anos ali entrei para visitar e mimar a minha mãe, e para os almoços de Domingo. Os meus filhos nasceram, cresceram, e rapidamente descobriram o prazer daquele terraço, o mesmo onde aprendi a subir às árvores, aos telhados das capoeiras, a andar de bicicleta, a jogar à bola, como boa Maria-Rapaz que era. Quando a minha vida se virou de pernas para o ar, e quando a minha Casa de Bonecas se transformou na casa de Hansel e Grettel, agarrei nos meus filhos e fui para lá viver. A casa perdera o encanto, já não era um lar… era um abrigo, já não era um ninho, era um esconderijo, já não era a minha casa, era a casa da minha mãe. Lá dentro procurei reerguer a minha vida, encontrar-lhe um novo sentido…mas não fui capaz. Hoje tive que arrumar, encaixotar alguns objectos que pertenceram ao meu passado e que contribuíram para o que sou no presente. E chorei… chorei como há muito tempo não chorava, chorei por tudo o que ali vivi, por tudo o que estou a viver, e principalmente chorei com medo do que ainda tenho para viver. E ao trancar a porta, ao virar as costas, senti que hoje… morri mais um bocadinho.

 

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