Desabafos no Dia Mundial da Criança
Imagem Retirada da Internet
Cheguei a casa quase à uma da manhã, gelada e cansada. Tinha saído pouco depois das oito para ir para o comboio. Estive treze horas enfiada na Escola (e ainda dizem que os professores têm uma rica vida). Quando saí os pantufinhas estavam a dormir, e agora… a dormir estão. Hoje apenas me ouviram ao telefone. Sou uma mãe virtual. Adoro vê-los dormir: bochechas encarnadinhas e cheirar a Mustela, cabelo perfumado pelo champô, ar sereno, doce (ilusório, porque são duas grandes pestes) e muito, muito quentinhos. Enfio-me na cama deles, tento absorver-lhes a tranquilidade do sono, a paz de espírito de quem tem como única preocupação brincar, e que acredita que neste mundo existem apenas a mãe e o pai, os avós, os colegas de infantário, e que as coisas boas da vida são jogar futebol, comer um gelado, lambuzarem-se com uma pizza e ir ao Mac Donald’s … Não posso deixar de pensar que temos tanto para aprender com as crianças. Quando a “vida lhes corre mal” (que é como quem diz, quando os seus caprichos não são satisfeitos) deixam cair uma lágrima de crocodilo e a seguir já não é nada com eles. E nós? Teremos esta capacidade para esquecer quem nos faz mal, quem nos magoa? Não, não temos! As crianças exploram e usufruem cada dia como se fosse único, não pensam no passado nem no futuro e vivem, apenas, o momento presente. Nós, deixamo-nos enlear nas teias do tempo e ficamos prisioneiros. A meu ver, a maior qualidade de uma criança é a sua autenticidade. Não são dissimulados, quando gostam, gostam; quando não gostam não se deixam arrebatar por um chupa-chupa ou um ovo Kinder. Tenho tantas saudades dos meus pantufinhas… saudades dos momentos em que os ia buscar ao infantário, íamos dar pão aos patos, jogávamos à bola no jardim. Depois íamos para casa, preparava-lhes o jantar, dava-lhes banho e contava-lhes uma história antes de adormecerem. Não posso deixar de trabalhar para ficar em casa com eles, e sinceramente, também não quero, apesar de ser «mais mãe do que mulher», o trabalho realiza-me, preenche-me e preciso dele para ser livre e independente. No entanto, sei que o tempo não volta atrás e que eles nunca mais na vida voltam a ter 3 e 6 anos e que eu estou a perder muitas coisas boas. E sei também que só agora é que eles olham para mim como a «mãe mais linda do mundo» e me dizem que sou a «namorada» deles.