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aspalavrasnuncatedirei

Há palavras que nunca chegam ao destino...fazem uma longa e amarga travessia pela solidão dos sentidos e morrem na escrita destas crónicas.

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Há palavras que nunca chegam ao destino...fazem uma longa e amarga travessia pela solidão dos sentidos e morrem na escrita destas crónicas.

A Vida Como Um Presente

por aspalavrasnuncatedirei, em 29.08.08

 

Imagem retirada da Internet

 

Fim das férias de Verão. Todos os anos por esta altura sinto sempre necessidade de respirar fundo, deixar entrar um sopro divino em mim e… fazer um balanço. Talvez pelo facto da minha vida se reger por anos lectivos e não anos civis. Este ano foi… diferente… especial… pleno de acontecimentos. Aprendi tanto. Mudei tanto. Cresci imenso. Há em mim uma Mulher que não conhecia, e que agora se reflecte no meu espelho, vive na minha casa, come na minha mesa e dorme na minha cama. Olho-a com desconfiança, ainda me estou a habituar a ela. Faz-me rir, faz-me chorar e surpreende-me a cada dia que passa. Morreu a Mulher que fui e confesso… há dias em que sinto a sua falta. Era de tal forma organizada, metódica, previsível, sem novidade, acomodada, que tinha a segurança de conhecer todos os seus passos, no entanto, e por isso mesmo, os dias não eram vividos, eram programados. Mas tudo muda e o dia-a-dia ensinou-me a ver, com olhar crítico, os meus defeitos, a valorizar as qualidades, a aceitar as derrotas com a cabeça erguida e olhos postos no horizonte com optimismo. Sei que tenho que construir hoje as estradas do meu caminho, mesmo que o terreno seja pedregoso, pantanoso… porque o dia de amanhã é incerto e que “não vale a pena fazeres planos para a vida para não estragar os planos que a vida tem para mim”. Relativamente aos que me rodeiam, percebi que ausência não significa distância, que paixão não é o mesmo que amor e que amor é aceitação. Tenho consciência que as pessoas que hoje me amam, amanhã podem vir a odiar-me… e com a mesma intensidade. Entendi que aqueles que hoje me fazem sorrir, amanhã podem vir a ser responsáveis pelas minhas lágrimas e que não importa quão bondosas e dedicadas sejam comigo, um dia destes vão desiludir-me e vou ter que viver com isso, aprender a lição e, se possível, esquecer. Sei também que mesmo que não me amem ou não me aceitem como sou, isso não significa que não seja amada ou aceite, simplesmente os outros também não são o que eu espero que sejam. No campo das emoções percebi que não se apagam com borrachas mágicas as dores emocionais, não dá para fazer de conta que não existem, mas aprende-se a viver com elas, lambem-se as feridas e acredita-se que tudo na vida acontece por uma razão e que o Universo é generoso. Descobri que levamos anos a construir relações na base da confiança, da honestidade e bastam apenas alguns segundos para deitar tudo a perder. Doeu-me ver que há amizades se fazem pelos títulos e não pelas pessoas mas felizmente também reconheço que há amizades verdadeiras que se mantêm mesmo quando erramos, mesmo quando não somos o que queriam que fôssemos e que continuam a crescer mesmo que a distância se interponha. Reconheço hoje que investi anos em coisas que hoje não têm qualquer valor e que a minha felicidade se faz de afectos e não de valores porque o que importa não é o que tenho mas o que sou. O pior de tudo foi aprender que as pessoas mais importantes da minha vida, por razões várias, desaparecem muito depressa e por isso mesmo vale a pena dizer-lhes a cada instante o que sinto, dar-lhes um beijo carinhoso, um abraço apertado porque amanhã pode ser tarde demais Descobri com discernimento que terão que passar anos até me tornar a pessoa que almejo ser e que o melhor é começar a trabalhar nesse sentido desde já. Por isso, não importa onde já cheguei, o que consegui, mas para onde vou e sabiamente sigo sem ilusões, porque só se desilude quem as cria. Aprendi que não há vencedores nem vencidos, que cada um faz o que tem que fazer, escolhe o seu caminho e nunca o faz com o intuito de magoar ninguém. Por último, percebi o verdadeiro significado da frase “Everyday is a gift, that’s why they call it, the present!”.

 

 

Intervalo - Per7ume e Rui Veloso

Uma Aula Diferente

por aspalavrasnuncatedirei, em 13.08.08

Imagem Retirada da Internet

 

Preparo-me para a apresentação da sessão de leitura no EP. O que é que vou vestir? Como me dizia o António, que já anda nestas lides há mais tempo «-Tens que ir lá para dentro feia!». Mas que antítese… As mulheres passam a vida a tentar embelezar-se, e eu tenho que “enfeiar-me”.Decido vestir calças, mas que calças? Ou são justas e notam-se as curvas, ou são bermudas e vêem-se as pernas. E no andar de cima? Os tops são muito justos, as camisas um pouco transparentes, as camisolas decotadas… Era mais fácil se estivéssemos no Inverno, umas calças de ganga e uma gola alta resolviam o problema. Decido-me por umas calças pretas, um top branco e uma camisa branca por cima. Apanho os caracóis com um elástico, não me pinto, não me perfumo, não uso adereços. Saio de casa e penso no projecto que vou desenvolver. Estaciono o carro no atrium do EP. Invade-me uma sensação de pânico que tenho dificuldade em controlar, estou tão nervosa… Combinei encontrar-me com a Dra. Teresa mais cedo para podermos conversar sobre as sessões de leitura e sobre os reclusos. Saio então do carro, dirijo-me ao portão e toco à campainha. Só eu sei o quanto o meu coração bate, só eu sei a importância que este trabalho tem para mim, o que ele significa. Surge um guarda que me encaminha para o detector de metais. O alarme ecoa e eu sinto-me do tamanho de uma formiga, ou pior, sinto-me uma criminosa que acabou de ser apanhada em flagrante. O meu coração bate descompassado, sou revistada e percebemos que o que accionou o alarme foi o cinto das minhas calças. A Dra. Isabel tranquiliza-me com a sua expressão, tem um sorriso terno e deixo-me acalmar pela doçura dos seus olhos. Falamos superficialmente sobre os reclusos que estão na sessão de leitura, nunca quis saber o que os levou a estar aqui, o que fizeram, porque o fizeram. Não é esse o meu papel, não é para isso que ali estou. «-Vamos passar à zona prisional», oiço-a dizer, e o meu coração, que já tinha sossegado, sobressalta-se novamente. Começa então a minha peregrinação por um edifício austero, onde a cada 5 metros há um portão de ferro enorme, há uma chave gigantesca que a abre. Cumprimento os guardas a que vou sendo apresentada. É então que contacto com um cenário para o qual não me havia preparado. Ao entrar na zona prisional começo a ouvir gritos, assobios, as grades a abanar. Dezenas de homens “enjaulados”, como animais ferozes, que não ficaram indiferentes à minha entrada naquele espaço. Faço de conta que não oiço, sigo em frente, não baixo a cabeça, mas também não olho ninguém nos olhos e lá vou eu escoltada até à biblioteca. Fui extraordinariamente bem recebida pelos reclusos que estão a trabalhar na biblioteca. São pessoas simpáticas, educadas, um deles até brinca comigo e diz que fui muito bem acolhida, que tive uma recepção muito calorosa por parte dos «residentes». Lentamente a sala começa a encher, as pessoas olham para mim e trocam sorrisos cúmplices (não é todos os dias que entra ali uma jovem professora loura…). Never smile before Christmast, aprendi este ditado relativamente às Escolas e tenho obrigatoriamente que o usar aqui, não me posso esquecer onde estou. Começo serena, mas segura, por me apresentar, explico que não estou ali na qualidade de professora mas sim de dinamizadora de leitura. Mostro-lhes as capas dos livros para servir de motivação, deixo-os tactear os livros. Apelo para a importância do livro e da leitura. Daqueles homens… conheço dois. Um é o Miguel, morava perto da casa da minha mãe, na mesma rua. Filho de uma família complicada, pais alcoólicos, irmã ligada a drogas e a prostituição, miséria, atrás de miséria. O outro, o André foi meu colega na infância. Lembro-me dele nas piscinas, nos saltos para a água com uma agilidade incrível. Lembro-me perfeitamente: sempre muito bem-disposto, divertido. Há anos que o não via… nunca pensei encontrá-lo ali. Não fiz qualquer menção de o reconhecido, (o que me deixou, e ainda deixa, cheia de remorsos). Não sei que pessoa é ele hoje e não lhe posso atribuir a confiança que um dia teve. O tempo e as próximas sessões me ensinarão como lidar com ele. Não quero ser, ou parecer snob, não quero armar-me em pessoa superior só porque tive uma educação que ele não teve, tive oportunidades que ele não conheceu, fiz escolhas que ele não fez… mas sinceramente… custou-me ficar em silêncio. A sessão vai fluindo, vamos analisando os textos, vão-se ouvindo opiniões, vão-se trocando experiências de leitura. No final, sinto que o balanço é muito positivo, gostaram do projecto que lhes apresentei e ao saírem despedem-se com um «- Até amanhã» se vão voltar, é porque lhes interessou. 
 

Férias de Verão com Sabor a Inverno

por aspalavrasnuncatedirei, em 01.08.08
 
  
Ao longo das últimas semanas preparei-me para as férias dos Pantufinhas. Sabia que o dia 1 de Agosto chegaria e, com ele, as minhas duas pantufas iriam meter os pezitos ao caminho e lá iriam quinze dias de férias com o pai. Imaginei que aproveitaria essa altura para actualizar algum trabalho a que não tenho conseguido dar resposta, pensei nos papéis que iria finalmente arrumar, nos livros que iria ler, nos CD’s que iria ouvir e nos filmes a que iria assistir. Lembrei-me ainda que era uma excelente altura para visitar amigas em cidades distantes, comer com elas um gelado na esplanada, beber chávenas de chá pela madrugada fora. Pensei também que seriam dias ideais para fazer caminhadas, aquelas como eu gosto – quando o sol começa a acordar e o cheiro das torradas invade as ruas. Lembrei-me que iria ao ginásio queimar o pneu teimoso, fazer sauna e banho turco, nadar até ficar sem fôlego e dormir, dormir, dormir. Enfim… cuidaria um pouco de mim. Mas a realidade é sempre diferente daquilo que imaginamos e hoje, assim que os meus pequenos Indianas Jones partiram à aventura, senti-me tolhida por uma imensa tristeza, por uma terrível sensação de vazio. O divórcio é isso mesmo… mais do que um corte entre duas pessoas, é uma divisão de seres, é uma divisão de objectos e, dolorosamente, é uma divisão de afectos. Negoceiam-se carros e casas, móveis e pratos, livros e DVD’s, quadros e tapeçarias… E o pior de tudo: negoceiam-se os filhos: o seu afecto, a sua educação, os seus tempos livres. O Natal, outrora a união da família, passa a ser dividido em jantar da mãe e almoço do pai, ou vice-versa; e o mesmo acontece na Páscoa, nos aniversários e em todas as datas especiais. Enquanto num casamento dizemos: «- Eu vou buscá-los à escola.», num divórcio perguntamos se podemos ir, e estranhamente, alguém que tem tantos direitos e obrigações como nós, passa os dias a pedir (para as mais insignificantes coisas) a nossa autorização. E os filhos? Como será a cabeça de uma criança pequena, relativamente a este assunto? Com muita frequência oiço alguns pais (a tentar tapar o Sol com a peneira) dizer que as crianças ganham tudo a dobrar: dois quartos, duas férias, dois Natais dois aniversários, com presentes a dobrar… (como se num divórcio alguém ganhasse alguma coisa)… Os filhos podem ganhar tempo útil com os seus progenitores, podem até ganhar uma nova família mas invariavelmente também se sentem divididos. Estar com a mãe implica não estar com o pai, divertir-se com um, implica a ausência do outro. Já repararam que uma criança filha de pais divorciados diz sempre «- Vou para casa do meu pai», «-Estive em casa da minha mãe» a criança deixa de dizer «-A minha casa!», deixa de ter um sentimento de pertença a um lar, a um espaço e, por isso, desiludam-se aqueles que pensam que ela tem tudo a dobrar. Em situações como esta dá-me para divagar, para fazer uma viagem ao centro de mim, por isso neste dia em que o silêncio da casa é ensurdecedor, em que as paredes da casa se transformam em muros, em que o céu azul se transformou num dia cinzento de Inverno, aninho-me no beliche que tem enraizado aquele aroma a que cheiram os abraços dos meus filhotes e decido ficar ali numa atitude de consciente masoquismo. Deixo que as recordações me assaltem, de outros Verões, de outras praias, dos seus sorrisos. Deixo que as lágrimas me lavem a alma e molhem a almofada, deixo que o meu espírito se solte e vá brincar com eles na água do mar, construir castelos de areia, comer um Olá fresquinho e uma Bolacha Americana. E hoje foi só o primeiro dia When Youre Gone - Avril Lavigne

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